Durante o período dos juízes, Sansão foi um dos libertadores de Israel (Juízes 13-16). Amante da luxúria e dos prazeres sexuais, cumpriu o propósito divino às custas de sua própria vida. Independentemente do modo, do tempo, se de forma tranquila ou em meio às tragédias, uma certeza deve habitar na vida de todo santo: os propósitos divinos irão se cumprir, ainda que haja quem recalcitre no meio do caminho. Não apenas os relatos bíblicos confirmam isso, mas a nossa própria experiência testemunha que nessa guerra de vontades só quem perde somos nós. Quanto a Sansão, veremos brevemente o quanto é terrível se pôr em posição para julgar uma nação, mas não conseguir nem ao menos domar a si mesmo.
"Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade." (Provérbios 16.32)
Desde o ventre materno, Deus deixou claro a seus pais que Sansão seria um nazireu, alguém totalmente dedicado e consagrado a Deus (Juízes 13.4-5). Dentre os critérios para o cumprimento do voto de nazireu, estavam não cortar o cabelo, não beber vinho ou comer quaisquer coisas impuras (Juízes 13.5, 7).
Sendo, então, este homem separado, recebeu o chamado de livrar seus compatriotas da opressão inimiga, e recebeu forças físicas sobrecomum para tal. Mas de onde vinha sua força? Qual é a relação entre sua força e seus cabelos? O leitor mais atento irá se lembrar que sua força sobrenatural foi imediatamente embora após o corte de seus longos cabelos (Juízes 16.19). Todavia, não havia nada mágico em seus cabelos. Estes eram comuns como os de qualquer um de nós. Sua força, na verdade, vinha apenas de Deus: "O Espírito do SENHOR de tal maneira se apossou dele” (Juízes 14.6,19; 15.14). Como ele fora chamado para ser um nazireu, alguém totalmente consagrado ao Senhor, e como uma das evidências dessa consagração era o cabelo não raspado, seus longos cabelos não lhe davam força, mas lhe conferiam status de obediência e santidade. Note que eu não disse que o cabelo significava santidade. Ele era apenas um símbolo de seu espírito consagrado. Mas isso estava se perdendo, e, pouco a pouco, a luxúria de Sansão estava levando-o ao pântano da perdição. Seus cabelos, portanto, eram apenas um símbolo de sua consagração, e Deus mantinha a força dele por causa dessa sua separação e obediência ao chamado.
Entretanto, conforme eu disse, essa consagração estava sendo manchada. Sansão era aquele tipo de garanhão conhecido na igreja como o pegador da turma dos jovens, alguém entregue aos desejos sensuais e dominado por eles. Além de todo o seu histórico ruim, encontramos no início do capítulo 16, este triste relato de um homem que nasceu para ser diferente:
"Sansão foi a Gaza, e viu ali uma prostituta, e coabitou com ela." (Juízes 16.1)
No mesmo capítulo, apenas 3 versos depois (o relato bíblico não apresenta nenhuma passagem grande de tempo), temos o seguinte verso:
"Depois disto, aconteceu que se afeiçoou a uma mulher do vale de Soreque, a qual se chamava Dalila." (Juízes 16.4)
O que vemos nessa narrativa de Sansão, com esta mulher tentando descrobrir sua força a mando dos filisteus, é um dos relatos mais tristes da história bíblica. Sansão zomba, brinca e escarnece de sua posição de força, enquanto se satisfaz apenas mais um pouco dos prazeres da carne. Na mesma cama onde está pecando contra Deus, está rindo ao lado da soberba. Isso porque ele mente para Dalila sobre a possibilidade de perder a sua força. Como muitos hoje, ele se ancorava em sua prepotência de achar que jamais será abatido, pego ou descoberto. Sansão achava que quedas violentas só ocorriam com o vizinho. Cuidado, irmão.
Nesse fatídico relato, não vimos mais versos como "O Espírito do SENHOR de tal maneira se apossou dele”. Deus já estava se retirando dele. Após ter mentido 3 vezes para Dalila, esta finalmente consegue seduzir Sansão e ouve dele de onde viria sua força. Sansão estava tão cego que acreditava que sua força realmente vinha literalmente de seus cabelos. Sua tolice custou caro. Após Dalila cortar seus cabelos enquanto ele dormia, e sua força ter finalmente ido embora, os filisteus entram no quarto da perdição e pegam Sansão, sem que esse conseguisse, como antes, se defender. O símbolo máximo de sua consagração foi tirado, e, então, sua força divina ruiu. Agora era ele e sua luxúria apenas. O que poucos sabem é que as paixões carnais pregam o consolo, o prazer e a satisfação, mas entregam apenas morte. Quando os filisteus o pegaram, a primeira coisa que fizeram foi vazar seus olhos. Se antes estava cego espiritualmente, agora essa cegueira era física. Sansão agora era um homem comum, preso e humilhado diante daqueles que ele deveria derrotar. Ele nasceu para isso.
O fim da história nós conhecemos. No ato de redenção, Sansão roga a Deus uma última força, Deus concede e, heroicamente, através do sacrifício de sua própria vida, Sansão consegue fazer no fim o que deveria ter feito desde o início. Ele, preso, derruba as colunas e morre matando todos os filisteus presentes. Sua obediência tardia, após muita luxúria, custou sua própria vida. Como vimos no início, Deus sempre cumprirá seus propósitos, ainda que o homem tente resistir.
Quanto a Sansão, este homem poderoso matou muitos e muitos com uma queixada ou com suas próprias mãos, mas foi incapaz de domar seus impulsos. Salomão exemplificou isso de forma esplendorosa no texto que vimos no início:
"Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade." (Provérbios 16.32)
Sansão domou uma cidade, mas tombou diante de seu descontrole. Não subestime, caro leitor, o poder destrutivo do pecado. Ele é cruel, incansável e persistente. Se você abre uma brecha, ele irá entrar arrombando. Ele ama ver sangue e jamais se satisfaz com pouco. Portanto, olhe para a vida de Sansão e, humildemente, aprenda a não brincar com a graça. Deus nos ajude!
Rodrigo Caeté
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