Quem já passou dos 30, como eu, vai se lembrar daquelas caixinhas de promessas que nos serviam como "palavra de ânimo" para os momentos difíceis do dia. A gente sorteava uma opção onde teria uma frase geralmente triunfalista da Bíblia. Evidentemente que os criadores não poriam versos sobre a traição de Pedro, o adultério de Davi ou mesmo sobre o suicídio de Judas. Eram sempre versículos escolhidos a dedo para que o cristão dependente de frases de ânimo pudesse prosseguir na caminhada.
Os cristãos mais maduros na fé sempre criticavam esse método de leitura da Bíblia, pois fragmentava as Escrituras ao preterir as dores e sofrimentos normais da caminhada cristã e selecionar apenas os versos prósperos da vida. Graças a Deus, esse método caiu em desuso e são poucos hoje os que ainda usam a famosa caixinha de promessas. Agora, a grande questão: por que deixamos de usar as caixinhas de promessas? Será que o povo cristão amadereceu? Estamos lendo mais a Bíblia? Entendemos a importância do sofrimento em nossa caminhada? Nada disso. Na verdade, as antigas caixinhas foram substituídas pelas "caixinhas de perguntas" em muitos casos. Digo "em muitos casos", pois há muita coisa positiva nas caixinhas a depender de quem a utiliza. Eu mesmo já fui abençoado com respostas sérias de pessoas sérias nessas caixinhas. Todavia, o que mais tenho visto ultimamente são coaches da fé travestidos de pastores ou algum tipo de líder respondendo todo tipo de caixinha com um ar cômico, sem nenhuma seriedade, buscando apenas agradar o público. Geralmente, infelizmente, esse pessoal tem um público grande, pois o povo cristão que consome esse método de entretenimento continua sendo aquele mesmo imaturo de antes atrás de palavras ou de consolo ou que façam sorrir. Em resumo, essas "caixinhas de perguntas" fazem sucesso porque a vida espiritual de quem gosta é um fracasso.
Como bem profetizado pelo príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon, esse dia chegou: "Chegará um dia em que no lugar dos pastores alimentando as ovelhas haverá palhaços entretendo os bodes”. Eis os atores do mundo gospel fazendo caras e bocas, com um sorriso falso, visando ter cada vez mais seguidores e likes, e respondendo perguntas em seus 15 segundos de fama. E, do outro lado, um povo atrás de entretenimento, cada vez mais doente espiritualmente e buscando apenas alguns momentos para sorrir, pois Jesus não é mais o prazer de sua vida. Esse é o resultado quando a Bíblia deixa de ser suficiente para o cristão.
Rodrigo Caeté
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