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A falsa humildade da suposta consciência forte: expondo a bebida para a glória de... ops, para a minha glória


Você já notou a carranca do orgulho nas fotos dos supostos supercrentes que têm uma consciência supostamente mais forte só porque sabem que a Bíblia não proíbe, por exemplo, a bebida alcoólica? Outros amam os primeiros lugares atuais expondo suas estantes cheias de livros, até porque ser um intelectual diz muito bem a nosso respeito, ainda que eu não tenha lido nem 1% do que está nela. Certamente, o farisaísmo tem muitas roupas, e não são poucos os que usam a da falsa humildade combinando com a da suposta forte consciência apenas para, no fundo, mostrar que é mais santo. É tanta tolice que quem age assim escancara a impiedade da alma e publiciza o feio sentimento de superioridade que contrasta em muito com os ensinos do Senhor: 


"Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos." (Mateus 20.26-28) 

Tenho em mente, embora sem generalizar, aqueles dentre os reformados calvinistas que, ao descobrirem que não é pecado beber, sendo um erro apenas a embriaguez (Efésios 5.18), vivem a postar nas redes sociais imagens de cerveja ou outros drinks alcoólicos. A justificativa é a de que devemos fortalecer a consciência do mais fraco, ensinando, com essa atitude, que não é pecado beber moderadamente. Ora, será que é isso que a Bíblia realmente ensina? 

Temos dois textos bíblicos que versam sobre o assunto da consciência fraca e forte. Um é o de 1 Coríntios 8, e o outro é o de Romanos 14. Embora se pareçam em alguns pormenores, há diferenças cruciais que devem orientar nossas atitudes hoje. Como os dois textos são grandes, não os porei por completo aqui, mas indicarei a diferença principal entre ambos, citando alguns versos centrais. Em 1 Coríntios 8, a temática por trás é a comida sacrificada a ídolo. Paulo inicia seu texto ensinando que não existe falso deus, muito menos verdadeiro sacrifício a ídolos. Em outras palavras, é tudo invenção, e apenas os fracos quanto à consciência para crerem em alimentos exclusivamente a falsos deuses: 

"No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e que não há senão um só Deus." (verso 4) 

Veja que Paulo indica que havia, desde aquela época, alguns irmãos com uma consciência mais fraquinha quanto a esses assuntos: 

"Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se." 

Mesmo não existindo esses tais ídolos, qual era a posição do apóstolo em relação aos santos mais fragilizados na fé que sofriam com uma consciência escravizada a certos costumes? Ele organizava uma grande mesa com comidas supostamente consagradas aos ídolos para que os cristãos mais fortes pudessem comer na frente dos mais fracos? De forma alguma: 

"Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos. Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas a ídolos? E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu. E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais. E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo." (versos 9-13) 

Paulo está a condenar severamente aquele cristão que já sabia que não fazia sentido essa cultura da comida sacrifica ao ídolo, e, por isso, bancava de fortão na frente dos mais fracos, induzindo-o, por exemplo, a participar de seu banquete. Nesse contexto de 1 Coríntios 8, o fraco na consciência acredita que certas comidas não devem ser degustadas, mas vê o forte comendo e participa desse banquete, vindo a pecar. Portanto, aqui, o fraco segue a fé do mais forte, concordando com ele quanto à prática, mas, no fim, pecando, pois sua própria consciência o condena. Qual, então, é a recomendação de Paulo? A abstenção da própria liberdade por amor ao irmão mais fraco. 

Apliquemos isso ao caso da bebida alcoólica. Vemos essa santa abstenção? Ou temos estado diante da mesma prática daqueles cristãos mais fortes repreendidos pelo apóstolo? Creio que estes que ficam a postar fotos com alguma bebida alcoólica, sobretudo em nosso contexto de uma cultura cristã ainda muito equivocada quanto ao uso do álcool, sem mencionar as inúmeras desastrosas consequências do alcoolismo, estão pecando soberbamente, se achando fortes quanto a consciência da bebida, mas sendo impiedosamente arrogantes. 

Agora, quanto ao texto de Romanos 14, o fraco na fé não concorda com o forte, como em 1 Coríntios 8, mas discorda dele, acreditando que está certo em seu posicionamento: 

"Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu." (Romanos 14.1-3) 

O fraco discorda do forte, bate o pé achando que está certo, e ainda parte para o debate com fortes convicções. Neste caso, qual é a orientação do apóstolo? Partir para cima em refutação? Não. Ele recomenda que não se discuta com o fraco. Em questões práticas, até podemos iniciar um debate, a fim de ensinar, mas, quando percebemos que o fraco se acha certo, devemos evitar o debate, justamente porque nossa consciência forte quanto ao tema debatido logo nos incitará a partir para a arrogância intelectual e espiritual. Por isso, assim Paulo conclui: 

"Se, por causa de comida, o teu irmão se entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu. Não seja, pois, vituperado o vosso bem. Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com os outros. Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha a tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]. A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova." 

Notemos que, embora sejam textos diferentes (Em 1 Coríntios 8, o fraco concorda, imita o forte, e peca; em Romanos 14, o fraco discorda, não imita o forte, mas quer debater.), a aplicação prática sempre é direcionada para o amor fraternal, e a abstenção de nossa própria liberdade por amor ao irmão mais fraco. Isso significa que ama seu próximo aquele que, sabendo que a bebida não é pecado, se abstém de fazer isso publicamente. Todavia, peca aquele que soberbamente fica sinalizando virtudes de uma consciência forte, arrotando pseudo piedade. No fim, o que transparece é o antigo orgulho que Paulo já teve que tratar com aqueles irmãos mencionados nestes textos que vimos. Isso sem mencionar a falta de amor e cuidado com o seu próximo. Certamente, Jesus não se agrada daqueles que fazem sofrer aqueles mais fracos na fé pelos quais Cristo deu a sua vida. Não seja, portanto, causa de tropeço de seu querido irmão. Seja humilde e, se necessário, abra mão de sua liberdade, até que seu irmão seja ensinado graciosamente.

Rodrigo Caeté 

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