Certa vez, Jesus nos apresentou a "parábola do semeador", nos ensinando que existem 4 tipos diferentes de solos: 1) solo à beira do caminho; 2) solo rochoso; 3) entre os espinhos; 4) e a boa terra. Este relato se encontra em Mateus 13.1-23, no qual é exaltada a glória da Palavra, que é a semente, mas a miséria do homem, que são os solos inférteis. Neste texto, pretendo enfatizar apenas um dos solos, aquele que muitas vezes nos engana com falsas conversões, já que faz germinar, em larga escala, a semente da alegria. Eis que vos apresento seu principal semeador atualmente: os coaches do evangelho.
Antes de desenvolver este ponto da falsa alegria, permitam-me percorrer pelo contexto da passagem. Na parábola de Jesus, o primeiro solo, "à beira do caminho", representa aqueles que ouvem a palavra de Deus, mas não a compreendem. Essa incompreensão, contudo, não se deve a algum impedimento intelectual. Não é difícil inferir a diferença entre esses 4 solos. Essa dificuldade de compreensão, na verdade, é espiritual, conforme nos aponta o contexto anterior:
"Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido. Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis." (Mateus 13.10-14)
Alguns acham que as parábolas eram formas didáticas e simples que Cristo usava para que todos entendessem sua mensagem. Ao contrário disso, a parábola era uma forma para que apenas os eleitos entendessem o ensino. Era um meio de tornar ainda mais surdo e cego os impenitentes. Portanto, a semente que cai à beira do caminho cai em solo espiritualmente infértil. Não havendo, então, raiz, o maligno logo aparece e toma a semente sem nenhuma dificuldade (versos 4 e 19).
Outro solo recebe o nome de "entre os espinhos". Estes são, segundo Jesus, os que ouvem a palavra, "porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera." (verso 22). Como o verdadeiro amor por Deus não germina neste solo, havendo amor apenas pelas necessidades e riquezas deste mundo, o que cresce são os espinhos, que logo sufocam a palavra na vida desse apaixonado por esta terra.
Há, ainda, aquele solo descrito como "boa terra". Este é o "que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um." (verso 23). Essa boa terra é arada soberanamente pelo próprio Deus, que a faz ser fértil e preparada para receber a boa semente. É o próprio Senhor quem afasta toda praga, espinho e rocha, deixando o terreno bem regado e propício para frutificar. Dito de outra forma, Deus não apenas semeia quanto prepara a terra. A glória é toda de Deus eternamente!
Por fim, vejamos os solos dos coaches. Estes, com suas técnicas psicológicas fajutas, e seus métodos de hipnose conhecidos, conhecem bem esse tipo de solo que carece de pequenas e rápidas alegrias. Jesus denomina de "solo rochoso:
"Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. (versos 5 e 6)
"O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza." (versos 20 e 21)
Note que havia pouca terra entre as rochas, e muito rapidamente a semente germinou nessa pouca e rasa terra, não havendo espaço para nenhuma raiz se aprofundar. Crescia, então, uma planta frágil, superficial, hipersensível às atrocidades externas. Um leve vento contrário poderia derrubá-la. Consegue associar com os seguidores dos coaches?
O que esses Ansioliticos da alma fazem, a não ser produzir alegrias efêmeras? Estes coaches são especialistas em pregar o prazer de agora, o hedonismo triunfante fastfood. Não há compromisso com raízes, com a glória eterna e com Deus, mas apenas com as supostas sensações de bem estar momentâneo. Como é possível constatar isso? Vejam as mensagens triunfalistas centradas no eu: "Há uma promessa divina para você; os sonhos de Deus para a sua vida jamais irão falhar; esse sofrimento não pertence a você, pois você é filho de Deus; sua benção já está a caminho”, etc. Agora, pegue essas frases e desenvolva-as sintaticamente a fim de produzir um efeito de sentido surpreendente, para atrair a emoção do ouvinte. Por fim, proclame-as com um ar espiritual, com modulações na voz, e algumas técnicas de hipnose. Se houver, dentre o público, aqueles seres frágeis, hipersensíveis, porcelanamente preparados sem os anticorpos das críticas, das dores, das contrariedades, do sofrimento e das grandes tragédias, eis um solo rochoso, com pouca terra, mas muita vontade de germinar sementes da alegria, ainda que esta morra logo. O foco é ter muitas e muitas sementes da alegria, tal como é necessário ouvir sempre o próximo coach, senão a depressão de alma ressurge. Uma vez fisgado pelo coach, sendo um floquinhos de gelo, no primeiro realmente escaldante, o derretimento é fatal:
"Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se." (Verso 6)
"mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza." (Verso 21)
Esses floquinhos de gelo, desta geração que não conhece uma "surra", que foge da mínima dor, que brinca o dia todo no metaverso e desconhece o mundo real cheio de miséria por conta do pecado, vê rapidamente sua triste alegria se derreter. São muitos daqueles que se convertem emocionalmente, passam a frequentar alguns cultos, mas logo se afastam porque sentiram o peso do sofrimento. São muitos daqueles que são convencidos emocionalmente peço coach da fé, com mensagens triunfalistas, mas, na primeira cruz, agem como Judas Iscariotes. Em resumo, estes de solo rochoso são aqueles que entenderam o Evangelho através das lentes da egolatria, como se tudo girasse em torno de um Deus que fez e faz tudo por eles. Quando, entretanto, veem que Deus adora a Deus e não o homem, e que tal homem tem em seu caminho a cruz para carregar, logo abandonam a igreja e correm para os braços dos coaches da fé, que sabem muito bem como fazer germinar as pequenas alegrias. Infelizmente, por tanto buscarem as falsas alegrias terrenas se depararão com a Alegria Suprema, que os fará experimentar as tristezas eternas da ira da Alegria.
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