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O mito intocável e a cegueira da direita: quando a trave dos olhos ainda não foi tirada

Esse texto é inspirado a partir dos efeitos do que postei ontem, no qual teci uma pequena crítica ao presidente por usar, fora de contexto, a passagem bíblica de João 8.32. Meu objetivo era apenas mostrar que essa Verdade é uma Pessoa, Jesus Cristo, e não conceitos verídicos atestados pela realidade, por exemplo, usados para ganho político. Ocorre que, minutos imediatos à publicação, alguns seguidores deixaram de me seguir, e outros comentaram contrário a minha postagem. Ora, se sentiram-se ofendidos com o que falei ontem, espero que se sintam ainda mais com o que falarei hoje. Obviamente, refiro-me aos bolsonaristas cegos que não conseguem fazer uma mínima autocrítica. Não tenho compromisso com número de seguidores, nem desejo agradar a nenhum homem. Meu compromisso é com a Verdade. E é justamente porque me submeto à Verdade que falarei algumas verdades abaixo. 

Antes, preciso dizer que declaro-me eleitor do senhor Jair Bolsonaro. Votei nele e votarei de novo esse ano. Creio que ele tem feito um bom governo, apesar de algumas críticas que merece. Humanamente falando, Bolsonaro parece um homem honesto, comprometido com o avanço do Brasil, com as pautas conservadoras e cristãs. Ele parece super bem intencionado nas coisas que tenta fazer. Ocorre que ele se tornou presidente de um país profundamente mergulhado em corrupção e entregue ao marxismo cultural. Foram 30 anos de socialização paulatina, quase que invisível, mas bem implementada e totalmente explícita hoje. Além disso, o vício da roubalheira já estava entranhado no sangue da política brasileira, e, certamente, haveria a reação da abstinência quando alguns roubos fossem freados. Então, acredito que, apesar de toda essa dificuldade, sobretudo a atual, que é o ativismo judicial do STF, o puxadinho do PT, Bolsonaro tem feito um bom governo. 

Entretanto, ele não é um mito. Não é Deus. Não é santo. E não pode ser intocável. Essa proteção cega é coisa da esquerda, e jamais deveria ser vista entre os que se dizem conservadores. Um conservador, por exemplo, é alguém que não apenas busca frear a loucura destruitiva dos progressistas, preservando o que tem dado certo, mas também aquele que é cético quanto aos homens políticos. Ainda que sejam bem intencionados e busquem a boa democracia, como é o caso de Bolsonaro, continuam a ser pecadores diante de muito poder, orgulho e inclinações ditatoriais. Se são homens, são passíveis de queda e correção. Se são homens, são pecadores, errantes e dignos de redirecionamento moral. Se são, portanto, homens, são dignos do inferno e carentes da graça de Jesus Cristo. Um "mito" também tomba e precisa de cuidados justamente para não cair. 

Infelizmente, é isso que muitos bolsonaristas cegos pela ideologia de direita não perceberam ainda. Agir com autocrítica é a maior forma de apoio possível, pois a crítica justa e construtiva visa a correção de rumo para um procedimento ainda melhor. Essa é uma aplicação daquilo que aprendemos com correção divina. Deus nos ensina que sua disciplina é seu ato de amor, sendo seu ódio visto na não correção dos ímpios: 

"e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos." (Hebreus 12.5-8) 

Aplicando ao nosso contexto político, quando não temos uma visão crítica e justa diante dos erros de nossos políticos, estamos entregando-os ao erro incorrigível. Estamos mostrando que não mais nos importamos com os rumos da nação. Estamos, no fim, a dizer que detestamos tal político. Então, na ânsia de mostrarem amor e cuidado protetivo, quando não há crítica diante dos erros, estão mostrando apenas desprezo e desdém por tal político. 

Essa não pode ser a posição do cristão. Um cristão entende que o único Senhor incorrigível é Deus. Ele é o soberano, e nenhum outro pode ser alçado à posição de glória e veneração. Essa forma de enxergar seus políticos sempre foi bem mais vista na esquerda. No entanto, não são poucos os casos de cegueira na direita. São aquelas que gostam de criticar a esquerda, mas não tiram a trave do próprio olho. São hipócritas ideológicos, idólatras de político, e infiéis diante do Senhor. 

Particularmente, creio que muitos desses bolsonaristas são aqueles que ficaram órfãos de seu ditador de estimação, o ex-presidiário Lula, e projetaram em Bolsonaro esse sonho de ser controlado por um ditador. Muitos vivem torcendo, inclusive, para o presidente arrebentar a corda e instaurar um regime de exceção. Então, esses servos da ditadura lulopetista passaram a transpôr essa subserviência ao bolsonaro, e trouxeram consigo essa submissão acrítica construída pelo governo lulopetista. Eu tenho uma tese de por que muitos amam um ditador, independente do espectro político. Enquanto alguns carregam esse forte desejo autoritário de controlar a vida alheia, outros se apegam à irresponsabilidade das decisões. São os que amam serem mandados, para não serem responsabilizados se alguma coisa der errado. Vimos esses dois tipos de pessoas durante essa pandemia: aquelas que amavam controlar, sendo vistas não apenas nos governadores "tranca-rua" que mandaram fechar tudo, etc, como também naquelas que vigiavam se alguém saía às ruas ou não usava a máscara, para saírem dedurando ao tal governador. São os odiadores da liberdade. Por outro lado, vimos aqueles que submissamente aceitavam todas as atitudes ditatoriais. Como uma brincadeira de "vivo ou morto", nem se importavam com o "tira máscara, bota máscara, fique em casa, pode sair, põe máscara, tira máscara, pode sair, fique em casa, etc." A obediência era cega e acrítica. No fundo, estes amam alguém que os mande porque a responsabilização individual do erro fará que assumam que erraram, e eles destestam serem corrigidos. Por isso, também não corrigem. 

Carecemos de políticos honestos, conservadores e comprometidos com o bem da população, todavia, da mesma forma, necessitamos de eleitores independentes, livres das amarras ideológicas e comprometidos com o cuidado com aqueles que nos governam. A Bíblia nos ordena orar por eles (1 Timóteo 2.1-2), e creio que também podemos amá-los, sempre que necessário, com as devidas críticas construtivas.

Rodrigo Caete 

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