Um dos principais mantras do senhor presidente da República Jair Bolsonaro é "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará", além de seu tradicional "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". Até aqueles que jamais ouviram essa referência bíblica de João 8.32 passaram a utilizar este trecho como defesa da verdade. É aqui que reside o problema. Infelizmente, a utilização desse verso pelo presidente sempre foi corroendo o contexto, promovendo um ensino, ainda que inconsciente, deturpado da pessoa de Jesus Cristo.
É mentira que "uma mentira dita mil vezes vira uma verdade". A verdade, como conceito, sendo uma apresentação dos fatos reais, jamais deixará de ser verdade, ainda que a mentira seja propagada mil vezes. O que pode ocorrer é o fenômeno da midiatização da mentira, a ponto de sucumbir a verdade, vindo aquela a ser acomodada paulatinamente na mente do cidadão. Infelizmente, é isso que Bolsonaro tem feito toda vez que propaga o texto de João 8.32, pois ele ensina um conceito mentiroso, a partir de contextos nada relacionados com a passagem bíblica, e muitos acabam aprendendo o errado. É notório que a boa intenção do presidente é mostrar que agir com sinceridade, sempre do lado da verdade, do bem, etc, sempre irá prevalecer diante da corrupção das ações. Mas, mesmo com boa intenção, Bolsonaro propaga uma de suas maiores Fake News religiosas.
Quanto ao contexto, em resumo, Jesus estava travando um embate teológico com os fariseus sabichões da época, aqueles que se achavam os detentores da verdade e livres espiritualmente. Mas Jesus, combatendo essa falsa segurança, deixou claro que aqueles fariseus soberbos estavam presos em seus pecados e caminhando para a condenação (versos 21-29). Após ouvirem essa dura palavra, alguns judeus creram em Cristo (versos 30-31), ao que Jesus respondeu "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (v.32). A resposta seguinte destes judeus ilustra bem a interpretação que muitos, incluindo o presidente, têm hoje desse verso 32. Eles disseram: "Somos descendência de Abraão e jamais fomos escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres?" (v.33). Por fim, a resposta seguinte de Jesus define que verdade é esta do verso 32. Primeiro, ele diz que "todo o que comete pecado é escravo do pecado." (v.34), e finaliza apresentando a Verdade que liberta os homens desse pecado: "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres." (v.36). Ou seja, essa Verdade deste texto é uma Pessoa, é Jesus Cristo, e é confirmado não apenas por esse contexto próximo, mas também pelo contexto mais amplo, conforme se verifica na declaração abaixo:
"Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim." (João 14.6)
Portanto, Bolsonaro propaga esse falso ensino e precisa aprender a não usar textos bíblicos, algo sagrado para a fé cristã, de forma descontextualizada a fim de obter ganhos políticos. Não se pode zombar da Sagrada Letra dessa forma. A Verdade que todos precisam conhecer não é um conceito de veracidade, mas uma Pessoa chamada Jesus Cristo, que se apresenta como o libertador dos homens pecadores.
Rodrigo Caeté
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