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"Alegrai-vos diante da queda alheia, e chorai diante do riso do próximo": a perda do senso divino de pertencimento.


Não é sobre você. Você não é o centro do universo quando cai ou quando se santifica. Seu processo de corrida cristã não é estritamente seu. Contrariando a cosmovisão de muitos, há um sublime senso de pertencimento ao Reino Divino que destrói nosso jeito egoísta de viver e enxergar o mundo. O ponto é que sua queda é também minha, bem como suas lutas e seu processo de santificação. Ainda que o mundo esteja do avesso, com cristãos rindo e zombando da queda de um irmão, e se entristecendo com o progresso do próximo, a Santa Palavra continua a nos apresentar a bela família de Deus vivendo numa simbiose extraordinária. 

"Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si." (Romanos 14.7) 

Discorrendo sobre o acolhimento do fraco na fé, Paulo condena aquele que se põe em posição de julgamento soberbo, quando se condena um irmão por ainda não estar num "nível superior" quanto a algumas questões de consciência. O verso 15 deveria nos tocar bastante, pois apresenta uma triste realidade ainda hoje: 

"Se, por causa de comida, o teu irmão se entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu." 

Você sabia que já pode ter feito um irmão chorar com sua dureza de julgamento? Você sabia que a fraqueza dele é também sua? Por favor, leia atentamente esses versos abaixo que mostram que somos, espiritualmente, uma só carne com nosso irmão: 

"esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação;" (Efésios 4.3-4) 

"Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros." (Romanos 12.4-5) 

"Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários; e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos de especial honra. Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros. De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam. Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo." (1 Coríntios 12.12-27) 

Este texto de 1 Coríntios 12 deveria envergonhar muitos cristãos atuais que perversamente zombam da união mística do corpo de Cristo. Alguns desprezam a comunhão dos santos; outros não ligam quando um irmão sofre ou passa por necessidades diversas; ainda outros entram em depressão quando percebe que um irmão está galgando muito bem o caminho da fé. Atualmente, é muito fácil encontrar os que se alegram diante dos que choram, e os que choram perante a alegria alheia. Há algo muito errado em nosso meio! 

O problema não é apenas essa inversão dos valores sagrados, mas os efeitos em nosso meio. Vou repetir: se a queda do irmão é a minha queda, e eu me alegro com isso, estou a me alegrar com a minha própria queda. Estou a cometer um suicídio espiritual quando torço ou comemoro pela/a queda de meu irmão próximo. Por outro lado, se me entristeço diante da santidade de meu irmão, estou a me entristecer com minha própria pureza. Tudo isso é vergonhosamente um absurdo. Nunca deveria ser assim. Onde está o senso divino de pertencimento? 

Vejam que eu explicitei o óbvio na Bíblia. Não inventei nada, nem usei versos pouco conhecidos. Todavia, ensinar essa teologia da união mística parece assustadoramente algo novo, de tão distante dessa realidade que estamos. Na era da comunicação e das relações sociais, diante do advento das redes virtuais, nunca fomos tão isolados e individualistas. A tecnologia pode avançar, e que bom que avance, mas nosso amor pela comunhão dos santos jamais pode ser abalado. Sinto saudade de ver, em âmbito nacional e mundial, esse senso de pertencimento que faz o santos se alegrarem com os que se alegram, e chorarem com os que choram (Romanos 12.15).

Rodrigo Caeté


 

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