"Faleceu Josué, filho de Num, servo do Senhor, com a idade de cento e dez anos; sepultaram-no no limite da sua herança, em Timnate-Heres, na região montanhosa de Efraim, ao norte do monte Gaás. Foi também congregada a seus pais toda aquela geração; e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor , nem tampouco as obras que fizera a Israel." (Juízes 2.8-10)
A ordem divina era clara em relação ao ensino à próxima geração:
"Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas. Havendo-te, pois, o Senhor, teu Deus, introduzido na terra que, sob juramento, prometeu a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó, te daria, grandes e boas cidades, que tu não edificaste;" (Deuteronômio 6.4-10)
Quando Israel estivesse na terra prometida, deveriam amar o Senhor que os livrou do cativeiro do Egito. Todavia, o que aconteceu? Uma geração inteira de pais foi negligente com a educação espiritual de seus filhos. O resultado está neste verso que marca todo o livro dos juízes:
"Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto." (Juízes 21.25)
É neste contexto de queda moral que se encontra Gideão. Como de costume neste livro, o povo de Israel fez o que era mau perante o Senhor, de uma tal forma que Deus o entregou nas mãos dos midianitas (Juízes 6.1). Foi, então, que Deus levantou Gideão para, por misericórdia, livrar o seu povo. A mensagem de livramento foi muito clara, e o Senhor disse a Gideão que este seria vitorioso contra os midianitas:
"Então, se virou o Senhor para ele e disse: Vai nessa tua força e livra Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei eu? E ele lhe disse: Ai, Senhor meu! Com que livrarei Israel? Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai. Tornou-lhe o Senhor : Já que eu estou contigo, ferirás os midianitas como se fossem um só homem." (Juízes 6.14-16)
A palavra era certa, e o Senhor não é homem para que minta (Números 23.19). Não há qualquer possibilidade de Deus se enganar ou fazer algo diferente do que disse. Todavia, qual foi a reação de Gideão? Ele precisava de uma confirmação a mais. Ele queria algo palpável e seguro. Para ele, a Palavra de Deus não bastava. Isso se parece com o nosso contexto atual?
Inicialmente, Gideão pede um sinal:
"Ele respondeu: Se, agora, achei mercê diante dos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu, Senhor, que me falas." (Juízes 6.17)
No decorrer do texto, Deus concede um sinal. A graça divina foi abundante e a confirmação foi evidente. Mas, como muitos de nós, o corajoso Gideão mostrou mais uma vez sua fraqueza:
"Disse Gideão a Deus: Se hás de livrar a Israel por meu intermédio, como disseste, eis que eu porei uma porção de lã na eira; se o orvalho estiver somente nela, e seca a terra ao redor, então, conhecerei que hás de livrar Israel por meu intermédio, como disseste. E assim sucedeu, porque, ao outro dia, se levantou de madrugada e, apertando a lã, do orvalho dela espremeu uma taça cheia de água. Disse mais Gideão: Não se acenda contra mim a tua ira, se ainda falar só esta vez; rogo-te que mais esta vez faça eu a prova com a lã; que só a lã esteja seca, e na terra ao redor haja orvalho. E Deus assim o fez naquela noite, pois só a lã estava seca, e sobre a terra ao redor havia orvalho." (Juízes 6.36-40)
Gideão pede a Deus mais 2 confirmações. Primeiro, Deus deveria molhar apenas a lã, enquanto o solo em volta ficaria seco. Vendo que isso acontece, ele pede que ocorra o contrário, e o chão fica todo molhado, exceto a lã. Deus, com graça e amor, atende ao teste de Gideão e confirma a confirmação de vitória. Muitos, a partir desse episódio, alegam que podemos pedir sinais divinos para sabermos a vontade de Deus. Então, lanço a seguinte pergunta:
Podemos pedir sinais ao Senhor, à semelhança de Gideão, para sabermos a Sua vontade?
A resposta objetiva é "Não". Em nenhum outro lugar da Bíblia encontramos um contexto parecido com esse. O entorno é de extrema perdição, e Deus está misericordiosamente libertando seu povo. Bem próximo, temos o tolo voto de Jefté (Juízes 11), mas, embora não tenha havido nenhuma reprovação explícita da parte de Deus, ninguém duvida que isso seja reprovável. O que Gideão transmitiu foi falta de fé. Quanto a pedir sinais, Deus foi muito claro em outra ocasião posterior:
"Então, alguns escribas e fariseus replicaram: Mestre, queremos ver de tua parte algum sinal. Ele, porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas." (Mateus 12.38-39)
Jesus descreve o pedido de sinais como prova de uma geração má e adúltera. Essa é uma clara reprovação de Deus. Isso não significa, contudo, que não devamos buscar saber qual a vontade de Deus para as nossas vidas. A Bíblia nos incentiva a isso:
"Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor." (Efésios 5.17)
Portanto, não é errado querer saber se o objetivo é unicamente a santificação e a honra a Deus. Normalmente, um cristão maduro deseja saber a fim de ser ainda mais santo. Ele deseja saber para dignificar ainda mais ao seu Senhor. Não há nada de preocupação futura, mas unicamente a luta contra a suas paixões carnais e a busca por virtudes. Gideão, por exemplo, queria segurança física, e não são poucos atualmente que estão atrás de sinais confirmatórios para a práticas de seus pecados de segurança e autoproteção.
"Ah, mas Deus já me deu sinais claros..."
Deus deu a Gideão e continuará dando, se assim Ele quiser, mas essa não é sua forma ordinária de agir, mas extraordinária. No período do Antigo Testamento, no processo de revelação progressiva, encontramos Deus falando por meio de sonhos, visões, sarça ardente, profetas, reis, ímpios, jumenta, etc. Entretanto, assim nos diz o autor acusa Hebreus:
"Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo." (Hebreus 1.1-2)
No método de revelação, Deus decidiu concentrar toda a sua glória em seu filho. Se no Antigo Testamento não tínhamos a Bíblia como Palavra de Deus, já que ela estava paulatinamente sendo formada, agora temos a Palavra completa. Toda a Escritura é a Palavra de Deus, centrada em Jesus Cristo. Não há mais necessidade de sinais, pois tudo que precisamos saber já se encontra escrito. Obviamente, a Bíblia não é um livro sobre tudo, mas contém tudo o que nossa alma necessita para o nosso descanso.
O meio extraordinário de Deus agir geralmente envolverá uma incapacidade de estar diante da Palavra (como Cristo aparecer com sinais aos muçulmanos próximos de terem contatos cristãos) ou uma desobediência de não querer estar diante da Palavra (aqui se encontra Gideão, que não confiou na Palavra de vitória dada por Deus. Aqui estão também muitos que não confiam no que está escrito na Bíblia e ficam atrás de outras confirmações; ou ainda aqueles que não veem a Bíblia como suficientes, e vivem atrás de novidades sem fim).
Por fim, há ainda aqueles que vivem confirmando a si mesmos a vontade de Deus através de circunstâncias favoráveis. São os sinais modernos. Ou através de uma suposta paz de espírito; ou por meio de uma consciência tranquila. Eu acredito que o Espírito Santo age internamente dirigindo a nossa vida segundo a vontade de Deus, e sei que ele faz isso, muitas vezes, nos concedendo uma paz indizível e orquestrando circunstâncias esclarecedoras. No entanto, há um perigo aqui, pois nosso coração enganoso é também traiçoeiro. Jonas, por exemplo, queria fugir da presença de Deus indo para Társis. Assim que encontra o primeiro navio, para onde este estava indo? Para Társis. As circunstâncias eram extremamente favoráveis. Mas era a vontade prescritiva de Deus? Não. O problema é que um rebelde obstinado sempre achará circunstâncias favoráveis para a decisão que já decidiu em seu coração. Por isso, devemos ter cuidado com esse sinais internos, elevar tudo cativo à Palavra de Deus.
Deus não deseja que fiquemos na expectativa do futuro, como ímpios ansiosos que não têm Deus (Mateus 6.32). Fomos programados para vivermos um dia de cada vez, em plena confiança em nosso Senhor:
"Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal." (Mateus 6.34)
O que Deus espera de seus santos é que aprendamos a viver por fé e não mais por vista ou sinais (2 Coríntios 5.7). Viver em busca de spoiler de sua própria vida é sinal claro de incredulidade. Diferente de parecer uma sabedoria, isso, muitas vezes, revela orgulho e ansiedade de alguém que quer apenas estar no controle. Abraão, por exemplo, saiu sem saber para onde ia, apenas confiando na Palavra de Deus (Gênesis 12). Isso é fé, que não pede sinais, mas oferece sinais de obediência e descanso.
Invés de continuarmos a procurar saber o futuro, como quem joga tarô com Deus, a principal vontade divina já foi revelada:
"Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação. (1 Tessalonicenses 4.3)
Quer saber o próximo passo? Seja santo. Quer saber o que Deus deseja paro amanhã? Seja santo. Quer um sinal? Eis a santidade diante de ti. Nós não precisamos apalpar para crer. Precisamos confiar no que Deus já falou. Agora, se alguém não abre nem a Bíblia, mas fica atrás de sinais, como vai saber o que fazer? Está aí a resposta para se viver em busca de sinais: uma negação da Palavra de Deus como princípio norteador final de nossas decisões. Quer saber, portanto, a vontade de Deus? Seja santo. Quer saber como agir em momento específicos? Mantenha uma rotina firme de leitura e oração, todos os dias, para que a sabedoria bíblica seja um guia seguro em nosso caminho até o Céu.
Rodrigo Caeté
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