Um dos maiores avivamentos da história do cristianismo se deu no século XVI, a partir do dia 31 de outubro de 1517, quando o monge Martinho Lutero afixou suas famosas 95 teses na Capela de Wittenberg contra os excessos autoritários dos líderes da Igreja, sobretudo contra as famigeradas indulgências, a suposta venda de salvação como forma de enriquecimento às custas da mazela do povo. A partir desse marco histórico, a Reforma se espalhou por outros países e ganhou uma proporção universal de grande avivamento e visitação divina, trazendo luz, novamente, à salvação unicamente pela graça. Mas, afinal, o que tudo isso tem a ter com essa tal de audioerotização? Vejamos:
Para Martinho Lutero, depois da Bíblia, a música era digna de altíssimo valor. Não foi sem razão que, como músico e compositor, usou a música para espalhar as principais doutrinas redescobertas durante o desenvolvimento da Reforma. Seguindo à risca o Salmo 119.54, "Os teus decretos são motivo dos meus cânticos", Lutero fez da música um meio poderoso de ensinar mais rapidamente a população simples a liberdade da doutrina da justificação pela fé, sem a necessidade das diabólicas indulgências. Em síntese, constata-se que a música foi o principal instrumento de difusão em longa escala dos ensinos bíblicos da Reforma.
Hoje, mais de 500 anos depois, com o avanço da música, podemos constatar a mesma coisa no que tange ao seu poder doutrinador. Se, naquela época, os reformadores usaram-na para o desenvolvimento da doutrina cristã, atualmente ela é usada, secularmente, para o desensino na moral cristã, a propagação das paixões da carne, o louvor da bestialização sexual e para a atrofiação do que restou da intelectualidade, após quase duas décadas de desgoverno marxista. É sobre isso que desejo falar quando uso a expressão audioerotização como meio de emputrecer ainda mais essa juventude amasidada com as paixões passageiras desta terra.
Eu tenho uma proposta prática para provar a minha tese. Adianto que não será nada agradável, como não foi para mim. Tu, caro leitor, terás que acompanhar alguns trechos das músicas mais tocadas neste ano de 2022 no Brasil. Eu tive o desprazer de ter que ouvir cada uma. Se, por algum momento, notar uma perda de qualidade em meus escritos (se há, obviamente), deve-se ao processo de atrofia intelectual que os poucos minutos ouvindo tais músicas me causou. Excessos à parte, não é brincadeira quando afirmo que, como uma anestesia, esse estilo de música que veremos abaixo vai moldando o nível intelectual de uma sociedade.
Essa lista das mais ouvidas em 2022 foi tirada do site "Amazon Music". Eis o link na nota de fim. Garanto que você não ganha por perder.¹
1) "Dançarina", de MC Pedrinho e Pedro Sampaio:
"Essa menina é o puro talento descendo... Mina gostosa, no beat ela encosta. Rebola no pique Anitta... Ah, ah-ah-ah, ah-ah-ah, doida pra sentar... Eu vou provocar, vou descer..."
A imagem construída, objetivando a mulher, (curiosamente a Anitta que gosta de empoderar as feministas), remete ao sexo onde a mulher fica em cima do homem sentando. Não tem como eu escrever isso de outra forma menos baixa. Essa mulher ainda estaria provocando o homem com seu corpo. Nesta música, há algo que provoque meditação, contemplação, desenvolvimento intelectual, etc? Não. Qual a única temática? Sexo e objetificação da mulher.
2) "Envolver", de Anitta:
"... Faz um tempinho que quero te pegar... Não fico muito tempo solteira. Me aproveite agora... Sei que vamos nos pegar e você vai voltar. Rebolando gostoso contra a parede... Bebendo e fumando... E em cinco minutos, você vai gozar... Sexo e álcool. O que acontece aqui, fica aqui..."
Não foram poucos os supostos artistas da música pop que comemoraram o fato de esta música ter figurado em primeiro lugar na lista das mais tocadas no Spotify neste ano de 2022. É evidente que não houve fraude. Mas deixemos esse assunto para outra hora. O objetivo aqui é acompanhar o ensino desse música. "Ah, mas essas músicas não me ensinam nada. Eu sou bem grandinho para decidir sobre minha vida, e sobre o que me influencia ou não". A maior prova de que pessoas que dizem isso já foram fisgadas pelo emburrecimento cultural se evidencia nesse próprio discurso. Quantos batons (chocolate) foram vendidos durante aquela intrigante propaganda repetitiva "compre batom. Compre batom"? Muitos. Por que o canal televisivo SBT é famoso por pôr, ainda que rapidamente, mas de forma repetiva, a propaganda da Jequiti? Porque todos os profissionais do marketing sabem que o ser humano aprende (ou desaprende) a partir da repetição ou da insistência. Com relação às músicas, quantos de nós cantamos inconscientemente muitas baboseira só porque ouvimos essas músicas em nosso ambiente de trabalho o dia todo? Entenda isso: essas músicas podem não te ensinar nada, mas moldam, silenciososamente, sua impureza moral. Você sabe disso!
Voltando à degradante música da Anitta, quantas crianças dançaram e cantaram, muitas vezes sem entender o espanhol, que "em cinco minutos, você vai gozar"? Não se engane: essas músicas estão acabando com a pureza infantil. As nossas crianças estão sendo expostas, diariamente, a esse estilo degradante, sobretudo através das sensuais dancinhas de TikTok.
Por fim, quanto à música da Anitta, apenas mais um exemplo de amor às mais baixas paixões carnais. É sexo sobre sexo.
3) "Down, Down, Down (Desce, desce, desce), de Ludmilla:
"Ele é obcecado por mim, por mim (oh, sim, oh, sim)...É que hoje sim, eu to facin, facin (oh, sim, oh, sim). Rebolo na cara do pai. E você pede mais. Dessa preta gostosa (oh, oh)... ter essa preta aqui é mó satisfação. Ela embala lentamente, dá palinha sentando, só mete tesão..."
Mulher como objeto, audioerotização, sexo, luxúria, degradação sem fim. Vamos para a próxima.
4) "Não vou te bloquear", de Mc Don Juan:
"Oi, só pra tu me ver beber
Só pra tu me ver beijar
Não vou te bloquear
Não vou te bloquear
Oi, só pra tu me ver feliz
Pra me ver te superar
Não vou te bloquear
Tu vai chorar, ah-ah, vai chorar, ah-ah
(Escuta, vai, carai')"
Não tem sexo? Não explícito, mas essa é mais uma música cuja referência é o prazer da vida libertária. Em síntese, é a publicização de uma pseudo vingança, diante de um fim de um relacionamento, com apenas um objetivo: "olha, estou bem sem você." Sabe aquela necessidade de provar que superou a perda de um relacionamento? Na verdade, o que há aqui é a implícita banalização da relação a dois e do sexo para a glória de Deus. É a curtição de várias relações. Se uma não deu certo, partir para a próxima é a solução, sem nenhum lamento diante da perda da antiga relação. O que se ensina às crianças? A normalização das relações descartáveis. Não nos assustemos, depois, se a próxima geração prostituir suas relações.
5) "Galopa", de Pedro Sampaio:
"Eu to querendo relembrar a tua sentada
No meu colo devagar
Descendo e subindo, depois tu galopa
Eu sei que tu gosta..."
Tem refrão que emula mais o ato sexual que esse? Sentada, descendo e subindo, e depois galopando. Enquanto eu escrevo, ouço, em uníssono, uma família inteira cantando essa música. Todos estão alegres, provavelmente bêbados, e embebecidos da dessensibilização maligna quanto ao que é prudente ou não para uma criança cantar. É a banalização do que antes era vulgar. É a normalização da bestialidade. É sexo sobre sexo!
6) "No chão novinha", de Anitta e Pedro Sampaio:
"Especialmente pra todas elas
Fiz esse beat só pra ver elas
Descendo, descendo, descendo
No chão, novinha, novinha, novinha, novinha... Joga a bunda pra trás
Vou jogar na tua cara
De quatro, sei que tu gosta (joga, vai!)
Posso rebolar de frente
Posso rebolar de costas
Dançando eu te provoco
Quеro ver se tu aguenta
Sеquência de love, love
Sequência de senta, senta
Pedro Sampaio, vai!
Joga pra mim, olha pra trás
Tá gostosin'? Eu quero mais!”
É um ato sexual cantado, e em detalhes audioerotizados. É um progresso, ou regresso, de sexualização até se atingir o orgasmo ilusório da fama e do prazer superficial e, com o perdão da redundância, rapidamente passageiro, vindo, após, o mais profundo remorso e abismo existencial. No fim, como diz a letra, todos ficam realmente "no chão", mas distantes das câmeras, em seus claustros carente de luz, de tipo, e com não pouco choro que se mistura com a poeira do chão sujo, que simboliza a sujeira interior de quem conclui sua existência apenas no sexo.
7) "Que rabão", de Anitta:
"Ah, apaixonado (jura?) (Papatinho)
Que raba, que rabão
Que raba, que rabão (vai sentando)
Joga na minha cara, mutcho louca, que belleza
Já que eu tô gostosa, cosa linda, que princesa
Rebolei delícia, ui, tô acesa
Eu sou sua rainha, mas gosto de safadeza
Hoje eu tô doida pra seduzir
(Vai, vai, vai) vai sentando
Para, empina, joga o cabelo
Deslizando
Rebolando daquele jeito
Que eu tô gostando"
As músicas da Anitta parecem todas idênticas. Todas falam de "sentar", fazem referência a rebolar a bunda, falam de sedução, de objetificação da mulher e de muito sexo. É um louvor a libertinagem do prazer. Mais uma vez, sexo sobre sexo.
8) "Cancelaram o Carnaval", de Pocah:
"Cancelaram o carnaval
Todo mundo entrou em desespero
Eu sofri, eu fiquei mal
Mas aí lembrei
Que a putaria é liberada o ano inteiro
Aqui é toma, toma
Bebê, não se apaixona
Hoje vai rolar furdunço
Aqui vai virar zona
Aqui é toma, toma
Não fica triste não
Cancelaram a folia
Mas eu tenho a solução
'Tá tristinho porque não vai ter bloquinho?
Então vem curtir o carnaval no meu quartinho
Maldade na putaria, rainha do vulco vulco
No quesito fantasia, ela deixou o pai maluco
Rebola, abaixa e trava
Levanta que eu te catuco
Desce, desce, pro teu tchuco"
Há alguma diferença para as musicas anteriores? Pouparei o leitor de uma análise prolixa dessa letra, porque parecem todas iguais. Todas exaltam a luxúria sexual.
9) "Amiga", de Lara Silva:
"Amiga, deve ser difícil ser você
No espelho, até você deve se querer
Gostosa, toda linda nesse batonzão vermelho
Conta aqui pra gente como é
Amiga, tá de sacanagem, olha esse cabelo
Cê chega chegando, tá maravilhosa
Quem não te conhece fica até com medo
Olha o monumento de mulher
Bora beber, beijar, mas eu não beijo qualquer um
Tchaqui-tchaqui, bum-bum
Bora beber, beber, beijar o chão, mas com o bumbum
Tchaqui-tchaqui, bum-bum"
Confesso que, quando li o titulo da música e nome desconhecido dessa cantora, até tive alguma esperança de algo diferente. Mas o que vimos foi mais um apelo à prostituição do "bumbum". É sexo sobre sexo, e mentes cada vez mais poluídas e ejaculando a podridão do coração.
Por fim, a décima mais ouvida:
10) "Socadona", de Ludmilla:
"Toma, toma, toma, toma, toma
Socadona
Toma, toma, só sentadona
Uma sarrada, duas sarradas
Três sarradas, quatro (ei)
Sexy Ludmilla, vai Tatiana
Mexe esse raba na pista de dança
Desce até o chão e balança essa raba
Balança, balança, opa, balança
DJ Snake chamou Ludmilla e a putaria já tá liberada
Vem cá novinha, toda safadinha
Tu ouve esse som e já fica molhada
Dá uma sentada, sentada braba
Toma, toma, tira a roupa que nós vamos suar
Toma, toma, se o carinha meter, eu te deixo brincar
Toma, toma, tira a roupa que nós vamos suar
Toma, toma, um pouquinho da Mariah e você vai pirar"
Essa letra chega ao ápice de apontar para o ato de a mulher ficar molhada. Prefiro me abster de quelquer outra análise específica. Creio que o leitor já entendeu o teor de todas as músicas.
O que podemos concluir de tudo isso? Quero começar respondendo com outra pergunta: por que músicas assim fazem sucesso? Creio que elas encontram clientela na população carente de satisfação de suas próprias luxúrias, mas precisam de incentivadores culturais. Então, escolhem a música audioerotizada como instrumento de liberação pessoal dos instintos mais depravados. Portanto, músicas assim casam-se com mentes divorciadas da sanidade moral, mas em busca de alguém que diga apenas um "pode sentar".
Numa contraposição absurda, enquanto Lutero ensinava a Palavra de Deus por meio da música, as Anittas atuais ensinam a "rebolar a raba". Enquanto muitos de nós assistimos insensivelmente ao avanço da audioerotização, achando que "nada tem a ver", as Anittas continuam a compor as novas e criativas letras sobre sexo. Não há dúvida de que Satã já descobriu o caminho para estimular a perversão de cada um, e se mostrará extremamente diligente no processo de inspiração musical em seus filhos compositores.
Não quero terminar esse texto sem indicar um caminho aos meus leitores. Preciso dizer que muitos de vocês necessitam voltar a respirar ares críticos, para que voltem à sensibilização perdida diante de tanta erotização. Precisam avaliar o que ouvem e cantam. Precisam filtrar o que entra no lar de vocês e o que seus filhos ouvem. E precisam não temer ousar ir contra a normalização do sexo explícito por meio da música. O ensino de nossos filhos depende também desse belo e importante meio de adoração ao Senhor e ensino dos bons costumes, da moral cristã, dos valores superiores e das doutrinas sagradas. Nada melhor que ter a música ao nosso lado e poder ter um filho como o Isaac Watts, o maior hinólogo inglês que, aos 7 anos de idade, escreveu esse profundo poema:
“Sou um pedaço de terra vil e poluído;
Assim desde o berço tenho permanecido;
Embora jeová venha graça diária dar,
É certo que Satanás irá me enganar.
Vem, pois, ó Senhor, de suas garras me livrar.
No Teu sague, ó Cristo, renova-me
E Tua graça divina outorga-me.
Sonda, pois, os cantos do meu coração e prova-me,
Que em todas as coisas eu esteja apto a fazer
Serviço a Ti, e também Teus louvores render.”²
Nota
1. Disponível em <https://music.amazon.com.br/playlists/B09M7JF91Z?ref_=dmm_acq_mrn_p_ds_z_-m_c_580948086685_g_126365645257>
2. Para saber mais sobre Isaac Watts, leia o meu artigo atraves do seguinte link <https://rodrigocaete.blogspot.com/2022/02/teologia-tambem-e-para-crianca.html?m=1>
Rodrigo Caeté
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