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Nosso Amor em análise 

 

Recentemente, levantei a seguinte enquete no Instagram: 

"Se você soubesse que não é e nunca será salvo, o que faria?" 

Eu coloquei 4 alternativas que a plataforma Instagram permite: 

1) Me entregaria totalmente ao pecado;

2) Cometeria suicídio;

3) "Lutaria" ainda mais pela salvação;

4) Outra resposta (comente) 

A opção mais voltada foi a terceira, com 73% dos votos. As outras 3 opções ficaram empatadas em 9% cada. O fato é que todas as opções receberam votos. Diante disso, que conclusão podemos tirar à luz da Bíblia? 

Inicialmente, deve ficar claro que eu levantei uma questão hipotética, uma vez que não nos compete saber quem nunca será salvo. Podemos julgar uma árvore pelos frutos atuais, mas não temos uma bola de cristal para saber o futuro. Um déspota de hoje pode se revelar um eleito amanhã, e um santo de agora pode se manifestar um anticristo na outra semana. Apenas Deus, portanto, tem a gerência quanto ao futuro e quantos serão salvos. Dito isso, vamos para a análise de alguns pontos. 

Algo que me chamou a atenção imediatamente foi a sinceridade de algumas pessoas diante de respostas bem radicais, como cometer suicídio e se entregar totalmente ao pecado. Por mais que sejam decisões lamentáveis e condenáveis, tiveram a coragem de dizer o que fariam. 

Comecemos uma rápida análise da opção mais votada: "Lutaria" ainda mais pela salvação. Tu deves ter notado que pus a expressão "lutaria" entre aspas. Isso fiz porque, como calvinista que sou, sei que a salvação não depende do esforço humano, mas unicamente da graça de Deus. Conforme diz o apóstolo Paulo, 

"Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia." (Romamos 9.16) 

Então, se nos fosse possível saber que não seríamos salvos, seria inútil todo esforço. Absolutamente nada seria suficiente para a nossa redenção, justamente porque tudo o que conseguimos produzir são trapos de imundície: 

"Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam." (Isaías 64.6) 

Isso significa que quanto mais um ímpio vive, ainda que faça coisas boas e ações louváveis, mais ele enfeita seus trapos para o dia do Grande Julgamento. Ora, mas dentre as opções oferecidas, essa não seria a escolha menos radical? Depende do ponto de vista. Acredito que aqueles que votaram nessa opção queriam mostrar o quanto a santidade vale a pena, mesmo que o fruto final não seja a minha salvação. Deus é digno de ser amado, ainda que eu me perca e por Ele seja condenado. Embora esse pensamento seja belo, ele esconde uma visão equivocada das boas obras. Se, por exemplo, eu sou um ímpio e recebo a revelação de que nunca serei salvo, isso significa que toda minha tentativa de santidade seria apenas um acúmulo de maldade e trapos imundos. Precisamos enraizar em nosso coração que não há uma pincelada de piedade no incrédulo. Tudo o que ele expira é pecado e mais pecado, embora inspire graça e mais graça todos os dias. Tudo significa tudo, ainda que externamente a aparência seja de boas obras. Sendo assim, a minha luta por santidade se voltaria para mim depois como uma avalanche de condenação. Veremos isso no próximo ponto. 

Conforme vimos, 9% dos votos foram em favor do suicídio. Essa parece a opção mais radical em razão de ser um grave pecado. Todavia, permita-me oferecer uma outra visão, mesmo que a partir de uma questão hipotética. Para isso, note essas palavras de Paulo: 

"Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus." (Romanos 2.5) 

A linguagem aqui não é figurada. O apóstolo está a dizer que os impenitentes estão acumulando ira para o dia do Grande Julgamento. Isso significa que haverá graus de punição a depender da gravidade dos pecados, e da quantidade de tempo vivido, bem como a partir das luzes que tiveram quanto a revelação da lei do Senhor. Em outras palavras, podemos concluir que quanto mais um ímpio vive, mais chance ele tem de acumular ira, podendo receber julgamento ainda mais pesado que aquele que viveu pouco. Alguém, entretanto, poderia argumentar da seguinte forma: 

"Mas não é Deus quem concede a graça da vida? Não é ele quem decide o momento da morte?"

Sim! A preservação da vida do ímpio é dom divino, e, embora o número dos eleitos seja decisão soberana do Senhor, isso não muda o fato de os homens serem responsáveis por sua rebelião contra Deus, estando passíveis de justa condenação. Portanto, a mesma graça que preserva o homem de cair imediatamente no inferno é a que lhe serve como mola de acúmulo de ira. É uma graça amorosa que condena. 

Portanto, seguindo essa ótica interpretativa, aqueles que, sabendo que nunca serão salvos, se entregarem a uma busca pela salvação, possivelmente estariam acumulando mais ira que aqueles que dessem cabo de sua vida. Obviamente, esta visão não é uma apologia ao suicídio, inclusive por ser um gravíssimo pecado. Esta análise apenas decorre de uma situação hipotética, a fim de enxergarmos com ainda mais nitidez a miséria humana. Tudo isso deve nos fazer concluir que nosso estado é de puro desespero, e que apenas a graça do Senhor pode trazer esperança ao homem caído. 

Por fim, outros 9% decidiram pela entrega total ao pecado. Já vimos, a partir dos 2 pontos de análise anterior, que a única saída para o homem é se render a Jesus Cristo. Não segundo as boas obras humanas, mas pelos méritos sacrificiais do Cordeiro. É preciso crer numa justiça fora de si mesmo, algo que o orgulho odeia. Sem isso, qualquer busca religiosa será apenas acúmulo de pecado. Já vimos também que o suicídio também seria um gravíssimo pecado. O que restou? Entrega total ao pecado? Qual seria a esperança do ímpio? Percebe a situação deprimente de quem não tem Deus? O que, então, uma entrega total ao pecado revelaria da pessoa? Veja essa famosa frase atribuída a Rabia: 

"Se eu te adorar por medo do inferno, queima-me no inferno; se eu te adorar pelo paraíso, exclua-me do paraíso; mas se eu te adorar pelo que tu és, não esconda de mim a tua face!” (Rabia, 800 d.C.) 

Qual é a nossa maior alegria quanto à salvação? Não ir para o inferno? Passear pelas ruas de ouro? Encontrar amigos que se foram? Quando alguém diz que se entregará ao pecado, caso saiba que não será salvo, pode ser que sua motivação anterior para servir ao Senhor tenha sido apenas material, e não por puro amor a Deus. Seria o serviço por interesse (Vale ressaltar que estou dizendo de modo geral e usando a expressão "pode", e não afirmando exatamente isso das pessoas que assim votaram). Se uma pessoa se entrega ao pecado porque sabe que irá ao inferno - e por isso irá "aproveitar mesmo - mostra que seu desejo de santificação antes era apenas uma evidência de amor por interesse, e não por quem Deus realmente é. Quem ama a Deus, ainda que descubra que vai para o inferno, continua a amá-lO, pois Ele é digno ainda que me condene. Portanto, nosso amor por Deus tem que ser independente do que recebemos ou não. Aí está todo o problema da teologia da prosperidade, que prega um falso evangelho do serviço por interesse. 

Finalmente, concluo dizendo que o ponto desse texto foi apenas provocar uma reflexão sobre as motivações de nosso serviço ao Senhor. Amamos a Deus de todo o nosso coração e acima das circunstâncias? Além disso, pudemos meditar sobre a miserabilidade humana em seu estado de condenação sem esperança. Estes não encontram nenhum motivo para real regozijo, a não ser que clamem pela graça do Senhor, e esse clamor revelem a eleição divina. De tudo o que vimos, podemos descansar nesse amor que nos alcançou, e nos deu uma esperança além dessa vida. A Ti, Senhor bendito, glória eternamente.

Rodrigo Caeté 

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