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A Lascívia não busca o sexo


A Lascívia não busca o sexo 

Talvez você tenha aprendido que o interesse da Lascívia é a satisfação de um clímax sexual. Todavia, desejo modificar essa estrutura de pensamento, primeiro divorciando a lascívia do sexo. Este é bom, e foi criado por Deus para a satisfação de um casal dentro do casamento. Deus deseja que o leito familiar seja sem mácula (Hebreus 13.4). Entretanto, aquele é pecaminoso, e tem a intenção de manchar a dádiva do sexo. É aqui que mora o desejo pelo proibido, e onde a satisfação nunca é realmente satisfeita. 

Uma vez que a união marital aponta para a união entre Cristo e sua Igreja (Efésios 5.22-33), é a união sexual de um casal uma parábola que antecede visível e sensorialmente a união entre Jesus e sua Noiva. O clímax sexual do homem com a mulher, quando ocorre a explosão máxima do prazer, espelha o encontro triunfal, com sua alegria indizível, entre o Deus encarnado e sua agora Esposa. Certamente, as Bodas do Cordeiro será o maior casamento da história. Portanto, o sexo é divino, e vivê-lo dentro da beleza de um casamento, de forma saudável, é a benção de todo homem. 

Mas a lascívia é demoníaca. Ou melhor, humana. Conquanto eu concorde que homens e mulheres podem ser pedras de tropeço para o alimento da lascívia de todos nós, em última análise ela brota do coração humano. Sem exposição alguma, o homem é capaz de ter os piores pensamentos quanto ao sexo. É do coração de que surgem as maiores atrocidades (Mateus 15.11). Não é, portanto, o meio externo que contamina o homem, mas o pecado original encravado em sua alma. E um desses audaciosos pecados é a lascívia, que vive em uma eterna busca pelo proibido. 

Conforme o título desse texto indica, a lascívia, então, não busca o sexo. Há quem pense que o casamento, bem como o sexo nesse matrimônio, põe fim ao desejo desenfreado. Mas a pegadinha da Lascívia é que ela não para de incomodar, pois seu objetivo não é a realização do sexo, mas a deturpação dos desejos. A lascívia não conhece limite; ela não reconhece uma bandeira branca; seu foco é levar o homem a ir cada vez mais fundo, de satisfação em satisfação, ultrapassando barreiras e mais barreiras, até que o ilícito seja sempre alcançado. Isso significa que a libertinagem sexual não é o remédio para a lascívia. Ela não se importa com isso, pois essa perversão é apenas um meio pra ela alcançar seu objetivo, que é escravizar a alma humana e encaminhá-la ao inferno. Ela busca estabelecer essa clara rebelião contra Deus, contra suas regras, contra a beleza do sexo. Sendo assim, põe o homem, que a alimenta como um opositor do Senhor. Pronto, aqui está a estratégia final da lascívia, que usa o sexo apenas como um meio para fisgar aquele que tem como cobiça a satisfação de seus prazeres. O resultado é sempre a morte (Tiago 1.13-15). 

Diante disso, como podemos dominar a lascívia? Vou sugerir alguns pontos abaixo, mas antes precisamos ter a ciência de que ela afeta todos nós de formas distintas. Uns são mais tendenciosos que outros. Para você, por exemplo,pode ser mais simples dominá-las, mas para outros pode ser algo dificílimo. Para uns, ir a praia ou mesmo ao shopping pode ser tentador demais e algo a se evitar, enquanto que para outros lugares assim em nada afetam. Então, somos seres diferentes, com cobiças distintas. Em todo caso, devemos levar a sério essa tentação, e respeitar a fraqueza dos mais vulneráveis. Vamos às orientações práticas: 

1) Nem sequer se nomeie entre vós  - Veja o que diz o apóstolo Paulo sobre os desejos sexuais: "Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos;" (Efésios 5.3). Ele é radical porque sabe que a lascívia é radical. Todos os santos devem evitar qualquer menção de impureza sexual. Nem uma palavra que incite o desejo profano. Nem um pensamento impuro (Filipenses 4.8). Deus determina que seja assim justamente porque Ele é comprometido com o prazer. Ele não busca eliminar nossos desejos, mas nos protege delimitando áreas dignas dos santos. Isso significa que devemos evitar conversação torpe (Efesios 5.4) e toda palavra frívola que incite desejos desenfreados. Portanto, se queremos abafar a lascívia, quanto aos desejos sexuais ilícitos, nem sequer devem ser nomeados entre nós. 

2) Fuja - Não banque o espertalhão achando que tem domínio sobre ela. Você não tem, e Deus foi claro quanto a isso. É bem verdade que o pecado não nos escraviza mais (Romanos 6.14). Todavia, também é verdade o que Deus disse por intermédio de Paulo: "Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor." (2 Timóteo 2.22). Deus não diz enfrente. Ele não diz resista. Ele também não diz persista. Ele manda fugir. Ocorre que muitos têm caído em pecados sexuais justamente porque não fogem, mas se acham fortes demais indo para a trocação franca com a lascívia. O único homem que a venceu assim foi Jesus Cristo. Mas nenhum outro a derrotou dessa forma, a não ser fugindo. O Deus que a conhece diz que essa é a forma de vencermos, e quem usa métodos de enfrentamento contra ela não apenas se acha forte demais, como também questiona a sabedoria divina. Então, regra é: ou você foge ou você cai. Na prática, isso pode significar evitar certos lugares e certas conversas; evitar ou moderar o uso das redes sociais; colocar privações em determinados sites; evitar acessar a Internet em horários específicos; etc. Cada um sabe sua tentação, e pode, assim, determinar o que seria fugir. A ordem é explícita: fuja por amor a Deus e a sua alma. 

3) Fiz um acordo com meus olhos - Mesmo diante de muito sofrimento, Jó ainda encontrou forças para ser santo. Assim ele disse: "Fiz aliança com meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?" (Jó 31.1). Muito da cobiça em nosso coração é despertado pelo que vemos. A narrativa da queda nos mostra que a desobediência iniciou-se com uma olhada, pois o fruto foi agradável à vista de Eva (Gênesis 3.6). A tragédia na vida de Acã teve origem numa olhada (Josué 7.21). E creio que muito de nossa queda se inicia a partir daquilo que olhamos. Um simples comercial hoje de 5 segundos pode ser fatal. Por isso, Jó foi radical, e devemos ser também, se queremos levar a sério a luta contra a lascívia. Devemos evitar a segunda olhada ou o olhar demorado. Para ser eficaz nesse ponto, poder ser necessário aplicar conjuntamente os dois pontos anteriores, evitando certas "amizades" e conversas, bem como fugindo de certas exposições. Seja sábio, radical e cumpra firmamento o acordo com seus olhos. 

4) Trate a todos como irmãos - Orientando Timóteo sobre o bom proceder da igreja, assim diz o apóstolo Paulo: "Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza." (1 Timóteo 5.1-2). Notem que ele menciona 4 tipos de pessoas diferentes: um senhor idoso, um jovem, uma senhora idosa e uma jovem. Ele diz que devemos nos relacionar com essas pessoas, respectivamente, como: pai, irmão, mãe e irmã. É como se toda a nossa relação fosse toda dentro de uma grande família cristã. Se um jovem trata e vê uma jovem como uma irmã, ele não irá cobiçá-la, mas respeitá-la. Se uma jovem vê um jovem como irmão, ela não irá desejar provocá-lo ou atrai-lá, mas irá, da mesma forma, respeitá-lo. Porém, é justamente porque se desobedece esss texto de Timóteo que muitos tem caído pecados sexuais, principalmente os jovens com seus namoros com beijos e abraços provocantes. Isso, certamente, não é tratar o não cônjuge como irmão. Portanto, eis aqui mais uma orientação bíblica na luta contra a lascívia. 

5) Trate o prazer com prazer superior - Por fim, e talvez o mais importante, é sabermos lutar contra o prazer sexual ilícito com mais prazer ainda. Aqui está o ponto: se estamos em busca da satisfação, busquemos alcançar isso, não no sexo, mas em Cristo. Quanto a esse ponto, assim diz John Piper: 

"Precisamos lutar contra o fogo com fogo. O fogo dos prazeres da lascívia deve ser combatido com o fogo dos prazeres de Deus. Se tentarmos combater o fogo da lascívia apenas com proibições e ameaças - até mesmo com as terríveis advertências de Jesus - falharemos. Precisamos lutar contra ela com as enormes promessas de felicidade superior. Precisamos encarar a pequena centelha do prazer da lascívia na conflagração da satisfação sagrada." (PIPER, John. Graça Futura. In HARRIS, Joshua. Sexo não é problema (lascívia, sim): pureza sexual em um mundo saturado de lascívia. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 20). 

A implicação final é a de que, na guerra contra a lascívia, nosso armamento é o prazer. Mas não qualquer prazer. Não no sexo ou em nossos projetos pessoais, como quem foge para os afazeres como estratégia. Mas um prazer em Cristo. Se ele for visto como nossa satisfação superior, todo o poder da lascívia será reduzido a nada. Aqui está a flechada no calcanhar dessa intrusa miserável. Aqui está sua queda. Se ela encontrar em nós pessoas que amam a Jesus acima de qualquer prazer, tudo o que a lascívia tem a nós oferecer será inferior e nada atraente, pois já estaremos diante dAquele atraente por excelência. Por isso, meu conselho final é para que busque cultivar um amor maior por Jesus Cristo; busque vê-Lo como digno de nossa alegria; busque realmente sentir prazer nele. Viver dessa forma não apenas nos impede de cair no pecado da lascívia, mas nos brinca contra qualquer tentação. Esse é o segredo da vida cristã em santidade: ter plena alegria em Cristo Jesus. 

                      Rodrigo Caeté

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