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E se não existissem céu e inferno, eu ainda me renderia totalmente a Deus?


Recentemente, deparei-me com esse seguinte relato que inspirou esse texto. Veja abaixo: 

"Crentes são interesseiros. Se a Bíblia não prometesse vida eterna, os crentes não adorariam a Deus, ninguém iria a igreja. Se a Bíblia não falasse de um inferno que não existe, os crentes não teriam tanto medo. O vosso ego de viver eternamente é que vos conduz. Querem ir para o céu e tudo mais. Se adorar fosse simplesmente de espontânea vontade, aposto que vocês diriam: 'não tem interesse, meu Senhor. O que ganharemos em troca'" 

E SE NÃO EXISTISSEM CÉU E INFERNO, EU AINDA ME RENDERIA TOTALMENTE A DEUS? 

Eu desejo começar minha resposta com uma citação que reflete todo o meu pensamento nesse texto: 

"Se eu te adorar por medo do inferno, queima-me no inferno. Se eu te adorar pelo paraíso, exclua-me do paraíso. Mas se eu te adorar pelo que tu és, não esconda de mim a tua face!” (Rabia, 800 d.C.) 

O amor do cristão por Deus não é motivado pelas dádivas do Céu ou por medo da punição. Primeiro porque o cristão genuíno vai ter uma profunda agonia de alma ao encontrar-se consigo mesmo e ver a depravação em sua alma. Logo, sua primeira declaração é: "mereço o inferno, Senhor. O inferno e nada mais!". Então, antes de temer a punição, o cristão sabe que seria justo para si. 

Em segundo lugar, o prazer do cristão não está nas "ruas de ouro", nas bênçãos das mãos de Deus ou em qualquer satisfação fora de Deus. Isso porque o Evangelho é o próprio Deus. Deus é o desejado de nossa alma. Como disse certa vez o D. Martyn Lloyd Jones a respeito do povo de Israel em direção a Terra Prometida, "Qual o valor de Cannã? Qual é o valor do leite e do mel? Qual é o valor de se ter possessões, se Deus não está presente? Eles compreenderam que a presença de Deus, que ter sua companhia e andar em comunhão com Ele, era infinitamente mais importante do que tudo o mais" (AVIVAMENTO, p. 163). 

O contexto é Êxodo 33, quando Deus disse que mandaria um anjo na frente derrotando todos os inimigos e que garantiria a entrada na Terra Prometida com leite e mel, mas que Deus não iria junto por conta dos pecados deles. Qual foi a reação do povo? Profundo lamento! Em palavras parafraseadas, disseram: "Não queremos chegar ao Céu e não ter o Senhor lá. Não queremos ser curados, mas não ter a Sua paz. Não queremos as fúteis riquezas desse mundo, se o Senhor não for meu maior bem. E nem desejo anjo nenhum me guardando, se o Senhor não for o meu Deus". 

Notem que o amor do cristão é puramente por Deus e nada mais! É Ele e Ele apenas! Ainda que percamos tudo nessa vida, se tivermos Ele, na verdade ainda teremos TUDO! 

Caminho para o fim dizendo que o pensamento de que servimos a Deus por interesse veio inicialmente de Satanás. Foi ele que chegou para Deus e disse que Jó só servia a Deus e era fiel porque Deus dava tudo para ele. De forma também parafraseada, foi como se Satanás dissesse isso na cara de Deus: "Você é totalmente indigno e desprezível, porque criou homens que só te servem e te amam por interesse. Mas tira tudo deles e você vai ver como que eles não te amam apenas por quem você é." 

E assim foi feito. Apesar de alguns percalços na caminhada de Jó, no fim ele provou que é possível um cristão servir a Deus por amor, mesmo lhe sendo tirado absolutamente tudo nessa vida. Jó foi um exemplo de amor genuíno a Deus. 

Portanto, todo aquele que serve a Deus por interesse, pelas bênçãos ou com medo da punição, está apenas corroborando com a ideia de Satanás, de que Deus é desprezível e indigno de ser amado por quem ele é. E todo aquele que diz que o cristão serve a Deus por interesse, como visto nessa citação inicial, apenas empresta a boca a Satanás para usar o mesmo argumento dele. 

Quanto a você, irmão, olhe para a sua vida e responda para si mesmo se seu amor por Deus seria o mesmo se ele tirasse em uma semana a sua família, seu emprego, sua saúde e tudo o que mais ama. Ainda assim seus olhos brilhariam de amor e lacrimejariam de emoção toda vez que contemplesse a Deus em oração?  

Rodrigo Caeté 

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