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A desonra da infidelidade: Will Smith e seu tapa hipócrita

É compreensível, embora absolutamente reprovável, quando um homem defende a honra de sua esposa com agressões físicas, ainda mais quando uma piada avança o limite do humor e banaliza uma doença. O calor do momento pode fazer um homem agir por instinto, mesmo que depois se arrependa. Todavia, é da mesma forma totalmente incompreensível quando a plateia mundial justifica essa agressão. Note que uma coisa é o calor do momento, mas outra é a avaliação de cabeça fria. O que não falta é defensor de agressor. Ora, alguém está certo nessa história? 

Se você estava numa órbita diferente nesse fim de semana, esse episódio relatado no primeiro parágrafo ocorreu na cerimônia de premiação do Oscar 2022, quando o Comediante Chris Rock, que apresentava o prêmio de melhor documentário, fez piada sobre a cabeça raspada de Jada Pinkett Smith, esposa do ator Will Smith, que tem alopecia. Após rir da piada inicialmente, Will se levanta, vai até Rock e dá um tapa em seu rosto. Se o Oscar estava sem a glamorização midiática de antes, voltou a ter a partir desse trágico espetáculo. Vale ressaltar que muitos fãs acham que foi pura encenação a fim de promover um sistema em declínio. Se é ou não, me atentarei ao ocorrido por hora. 

Eu comecei dizendo que é compreensível um homem defender a honra de sua esposa em contexto como esse relatado. Esse, contudo, não é o caso de Will Smith. Ele assumiu recentemente que não vive numa relação monogâmica com sua esposa. Após saber que ela mantinha relações de adultério com outra pessoa, Will veio a público abrir a relação e dizer também que já teve outras relações extraconjugais. Onde está a honra de sua esposa? Obviamente, ambos estão errados, pois comentaram pecado de adultério. "Mas eles são ímpios!", alguns dizem. Ora, a lei de Deus é para toda a humanidade, e não apenas para os cristãos. Tudo o que a Bíblia diz para o cristão, como leis, será cobrado de todo ímpio no último dia. Portanto, se alguém não defende a honra de sua esposa dentro de um casamento, como defenderá diante de uma piada? É uma piada seu casamento? Ou ele estava defendendo sua própria honra? 

Mas isso não seria justificar a piada? Em hipótese alguma. Ter uma relação de adultério não é razão para se permitir piadas sobre a saúde física de outra pessoa. Embora eu seja a favor da liberdade de expressão de forma absoluta, nenhuma piada deve avançar o limite da saúde, ainda mais quando se envolve dor (o que não é o caso). Indago novamente: alguém está certo nessa história? O que a Bíblia tem a nos dizer? 

"Digo-vos, porém, a vós outros que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra; e, ao que tirar a tua capa, deixa-o levar também a túnica;" (Lucas 6.27-29) 

Esse trecho do Sermão do Monte é para todos, principalmente para os cristãos. Agressão verbal se responde de forma verbal, buscando imitar a Cristo, que nos momentos finais, mesmo ouvindo muita afronta e sendo cuspido, foi para a Cruz em silêncio. Há momentos de falar, de defender a honra de forma decente, muitas vezes nos tribunais. Mas há momentos de se calar. Não desejo dizer o que seria melhor a se fazer nesse caso em questão, mas sei o que não deveria ser feito: partir para a agressão. Chris Rock errou, e Wiil Smith errou! 

Mas o pior de tudo são os erros de alguns cristãos no julgamento desse caso. Muitos passaram a dizer que admiram ainda mais Will Smith por causa dessa suposta defesa da honra de sua esposa. Ora, não leram o Sermão da Montanha? Vocês não juram seguir a Jesus? O que está havendo? Sejam coerentes com a fé de vocês. Chris Rock errou. Will Smith errou. E muitos cristãos estão errando também. 

Por fim, infelizmente esse caso se mostra como um retrato de nossa sociedade que banaliza o que é sagrado, a fidelidade, e valoriza o que é supérfluo, a honra pessoal. Não me digam que ele estava defendendo sua esposa. Ele já a desonrou há muito tempo. Ali, Smith estava defendendo seu próprio orgulho.

Rodrigo Caeté

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