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Poeira ao Vento (Dust in the Wind)



Deus plantou a eternidade no coração de todo homem (Eclesiastes 3.11), e, invariavelmente, todos buscam tatear Deus de algum jeito, seja para amar ou odiar, ainda que faça isso buscando outras religiões. Uma forma evidente de manifestarem isso é através da expressão artística musical, pois é aqui que muitos transparessem o status de sua alma. Em um contexto no qual muitas músicas feitas por cristãos parecem vazias de conteúdo bíblico, quero destacar uma música antiga, gravada pelo grupo "secular" Kansas em 1977, chamada "Dust in the Wind", que significa "poeira ao vento". Toda a referência da canção pode ser encontrada no princípio bíblico da brevidade da vida. Acompanhe a breve análise abaixo: 

"Eu fecho os meus olhos

Somente por um instante, e o instante passou. 

Todos os meus sonhos

Passam diante dos meus olhos, uma curiosidade." 

É bastante interessante essa imagem que se constrói quanto a brevidade da vida, pois o autor nos leva a sentir o quanto isso é real ao fecharmos os nossos olhos e percebermos que, de fato, aquele instante já se foi. E se foi exatamente como a fase do refrão "Poeira ao vento. Tudo que eles são é poeira ao vento". Uma poeira passa pela nossa frente e, muitas vezes, nem percebemos, e jamais a vemos novamente, pois logo some. É exatamente isso que o salmista diz abaixo: 

"O homem é como um sopro;

seus dias são como sombra passageira." 

(Salmos 144.4) 

A canção segue: 

"A mesma velha canção;

Apenas uma gota de água em um oceano sem fim. Tudo que fazemos se esfacela até o chão, embora nos recusemos a perceber." 

A referência imediata que faço é ao livro de Eclesiastes: 

"O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol." (Eclesiastes 1.9) 

Essa é uma forma de ver a vida através das lentes do pecado, que faz a tragédia parecer apenas tragédia e não flores em meio aos escombros, pois a vida, apesar de arruinada pelo pecado, ganhou a delicadeza da graça por meio de Cristo. 

O autor ainda mostra o quanto as nossas obras se esfacelam com o tempo, pois nada dura, como diz a Santa Palavra: 

"Deste aos meus dias

o comprimento de um palmo;

a duração da minha vida é nada diante de ti.

De fato, o homem não passa de um sopro." 

(Salmos 39.5) 

Como diz o refrão, tudo é "poeira ao vento. 

Tudo que somos é poeira ao vento." 

Por fim, o último refrão busca provocar uma reação do ouvinte: 

"Agora, não fique esperando;

Nada dura para sempre, além da Terra e do céu;

Isso passa voando;

E todo seu dinheiro não comprará outro minuto." 

Ele usa a segurança do dinheiro como elemento provocador, mas cada um tem a sua bengala. Cada um se agarra a este mundo de alguma forma. E você? Onde está segurando? Querendo ou não, você é como "poeira ao vento. Tudo que somos é poeira ao vento". 

"Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa." (Tiago 4.14) 

Essa música do Kansas é uma relíquia universal, pois é capaz de sacudir o mais incrédulo dos homens diante da fragilidade da vida humana. Não tenho dúvidas de que, através dela, Deus continua a mostrar o seu soberano controle sobre tudo e todos, e fazendo muitos entenderem o quão fracos e miseráveis são.

Rodrigo Caeté 

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