Os ímpios e os demônios têm fé, mas nenhum deles agrada a Deus. Tiago diz que os demônios não apenas creem, como também tremem (Tiago 2.19), embora muitos homens pequem e aparentemente fiquem em paz. A questão é que não há ninguém que não tenha fé em alguma medida. Todos creem em algo, e nem mesmo os ateus escapam disso. O ponto é destrinchar os diferentes tipos de fé. Normalmente, é feita uma simples diferenciação entre fé natural e fé sobrenatural, o que, no fim, é a principal distinção. Contudo, neste texto, pretendo aprofundar um pouco mais os conceitos de fé, para que possamos definir melhor qual tipo de fé que não agrada a Deus e qual agrada.
Primeiramente, é um consenso o fato de que todos cremos em alguma coisa. Um trabalhador acredita que, ao fim do mês, irá receber o seu salário; um apostador da mega sena confia que pode ganhar o prêmio máximo; e um aluno tem fé de que, estudando, conseguirá passar de série ao fim do período letivo. De alguma forma, todos vivemos baseados nessa tal fé natural, que nos impulsiona, por exemplo, a acreditar que alcançaremos algo no porvir. Nestes casos, estamos diante de uma fé natural em coisas aparentemente nada relacionadas com o divino. Podemos chamá-la de Fé Natural Ordinária.
Mas há outro tipo de fé natural, tendo como pano de fundo alguma divindade. Cito "alguma divindade" apenas para elencar as diversas formas de adoração, mesmo acreditando que existe apenas um único Deus. Nesta fé, que podemos chamá-la de Fé Natural Extraordinária, estão as diversas crenças transcendentes, como um espírita que acredita que pode reencarnar, um muçulmano que acredita que terá as tais virgens no paraíso ou mesmo um crente que crê na vida eterna através de Jesus Cristo, mesmo que não seja realmente um cristão. Então, diferente da Fé Natural Ordinária, essa fé aponta para uma crença em algo a partir de uma divindade adorada. Temos um caso bíblico muito marcante que evidencia essa Fé Natural Extraordinária. Em Mateus 8, nos é apresentado um centurião que implorou, diante de Jesus, pela cura de um criado seu. Jesus responde que irá curá-lo, mas o centurião disse que Jesus poderia apenas declarar a cura a distância, pois não se achava digno de que Cristo entrasse em sua casa, ao que o Senhor respondeu:
"Ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em verdade vos afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta." (Mateus 8.10)
Notemos que a fé desse centurião foi elogiada por Jesus, mesmo tal homem não sendo um de seus discípulos. Esse centurião cria no poder curador de Cristo e mostrou uma fé que muitos cristãos genuínos não mostram. Entretanto, não podemos nos esquecer de que essa é uma fé que, embora extraordinária, é natural, pois não provém de uma fé extraordinária salvífica. É sobre ela que falarei no próximo parágrafo.
Por fim, temos ainda essa Fé Extraordinária, pois não provém do homem natural caído, mas é um dom divino. O autor aos Hebreus disse que Cristo é o autor e consumador de nossa fé (Hebreus 12.2). Paulo também disse que recebemos um combo de graça e fé como presente divino (Efesios 2.8). Tudo isso indica que até o nosso ato de crer em Deus é uma obra extraordinária do próprio Senhor, que plantou em cada eleito essa Fé Extraordinária. Essa é a fé sobrenatural dos cristãos, que os capacita a crer não apenas em Jesus para a salvação, como também em toda providência divina. É aqui que aparece a nossa última fé desse texto, a que podemos chamar de Fé Extraordinária de Providência. Creio ser este o caso Hebreus 11, que define a fé como "certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem." (Hebreus 11.1), e ainda narra uma série de acontecimentos relativos aos santos do passado que confiaram na providência divina. É nesse contexto que aperece o verso "De fato, sem fé é impossível agradar a Deus" (Hebreus 11.6), indicando que sem essa fé em Deus nenhum homem o agrada, nem mesmo aqueles que têm uma Fé Natural Extraordinária por apenas crerem em alguma ação divina em suas vidas. Considerando que todas as nossas melhores ações naturais, a parte de Cristo, incluindo o ato de confiar em alguma providência divina, são vistas pelo Senhor como trapos imundos (Isaías 64.6), todas as crenças dos ímpios provocam ira no Senhor. Portanto, por melhor que seja sua atuação na sociedade, se tal pessoa não tem fé em Deus (a Extraordinária que o capacita a expressar a Fé de Providência) jamais conseguirá agradar a Deus. Pelo contrário, pois a justa ira divina permanece sobre ele em cada instante de sua existência.
Em resumo, então, temos esses 4 tipos de Fé abaixo:
1) Fé Natural Ordinária
2) Fé Natural Extraordinária
3) Fé Extraordinária
4) Fé Extraordinária de Providência
A Fé Natural Ordinária é essa crença de que no fim mês, por exemplo, receberei meu salário. Todos, em alguma medida, têm essa fé. A Fé Natural Extraordinária é a crença em alguma divindade ou mesmo uma busca pelo tatear alguma transcendência. Aqui, encontramos os diversos tipos de religião. Todos também têm essa fé, uma vez que somos todos religiosos. A Fé Extraordinária é a fé salvífica, o dom gracioso que recebemos do Senhor para crermos nele para salvação. Essa fé apenas os eleitos possuem. Essa é a única que, de fato, agrada a Deus, pois tem Cristo como mediador. Por fim, temos a Fé Extraordinária de Providência, que é um efeito natural da Fé Extraordinária. Esta fé capacita o cristão a expressar sua confiança na ação providencial do Senhor em sua vida. Esta também agrada ao Senhor, pois é fruto da fé salvífica. Por conclusão lógica, apenas os santos podem expressar esse tipo de fé. Os ímpios podem até indicar, em alguma escala, alguma fé na providência do Senhor, mas a raiz dessa fé é pecaminosa e carnal. Portanto, gera apenas ira e indignação no Altíssimo. Nesse sentido, apenas os santos podem expressar esses dois últimos tipos de fé.
Em aplicação prática, quero deixar a seguinte meditação para o cristão: a sua expressão de fé no cuidado do Senhor, confiando inteiramente em sua providência, pode ser uma das maiores evidências de que você recebeu a Fé Extraordinária. Além disso, essa confiança em Deus é uma bela declaração de amor, uma adoração genuína e um louvor ímpar. Deus é glorificado através de sua vida quando você mostra o quando confia que todas as coisas cooperaram, de fato, para o bem dos cristãos (Romanos 8.28).
Rodrigo Caeté
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