Uma das belas doutrinas do cristianismo recebe o nome popular de "já e ainda não". Essa pequena frase aponta para a distância temporal entre o que Cristo conquistou para nós e o tempo para a concretude plena. Nós, por exemplo, já fomos santificados em Jesus e assim somos vistos por Deus Pai, mas ainda estamos em progresso em nossa piedade. Somos, portanto, simultaneamente santos e pecadores. Recebemos, ainda, a graça de sermos herdeiros juntamente com Cristo. Isso é um fato imutável. Todavia, ainda não desfrutamos plenamente da herança divina. O mesmo pode ser dito a respeito do sofrimento, pois Jesus veio para nos livrar não apenas do pecado, como também de todos os efeitos dele, como, por exemplo, o sofrimento desta vida. Mas, conquanto isso seja verdade, aqui é a terra do martírio. Ainda não chegamos lá. Ainda estamos à caminho da glória plena. Tendo, então, em vista essa doutrina do "já e ainda não", meu objetivo, com este texto, é desenvolver a questão da "mente de Cristo" que o apóstolo Paulo pontua em 1 Coríntios 2.16, que diz:
"Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo."
Paulo, nesse contexto, estava repreendendo os santos de Corinto em razão de muitos deles estarem dividindo a igreja por meio da preferência de pregadores. Uns escolhiam Apolo, outros, Paulo, outros, Pedro, e ainda outros, Cristo. Paulo diz que essa forma de ver o cristianismo é baseada na sabedoria secular, que é loucura para Deus. E termina esse capítulo dizendo que eles já receberam a mente de Cristo para pensarem de forma espiritual e madura, sem as lentes terrenas. A partir disso, desejo provocar uma reflexão no leitor quanto ao modo como temos enxergado esse mundo e lidado com as diversas situações da vida. Você age, vive, pensa, opina, disciplina, faz sexo, se alimenta, discorda, estuda, etc, como quem tem a mente de Cristo? Note que você já tem a mente de Cristo. Por isso, a minha pergunta não foi no sentido de você estar buscando ter a mente de Cristo, mas se você age como quem tem, pois você tem.
Por outro lado, é uma verdade que somos incitados à busca pela mente de Cristo. Antes de vermos esses versos, quero apenas esclarecer que não faço referência, quando falo da "mente de Cristo", a estruturas cerebrais ou mesmo à mente literal de Jesus. Quero destacar, como "mente de Cristo", toda uma cosmovisão celestial, uma forma de ver o mundo com os olhos de Deus, pensar como o Senhor, agir divinamente e falar como Jesus. Ou seja, estou a falar de ser santo como santo é Deus. Dito isso, vejamos os versos através dos quais somos chamados a termos a mente de Jesus:
"E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo," (Efesios 4.11-13)
"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Romanos 2.1-2)
Os dois textos são bastante conhecidos, mas desejo enfatizar o chamado à mente de Cristo visto neles. Em Efésios, Paulo diz que os dons são distribuídos entre os santos para que os próprios cristãos possam crescer e se parecer cada vez mais com Deus. Nesse sentido, os dons não são para engrandecimento pessoal, mas para o serviço ao próximo a fim de que ele seja mais parecido com Cristo. Já em Romanos, Paulo fala também de nossa santificação, mas é ainda mais claro quanto ao processo na mente, que é onde tudo se inicia. Ele diz que a melhor forma de mudarmos a sociedade é começando primeiro mudando a nossa mente, isto é, sendo santo primeiro no âmago de nossa existência.
Então, é expresso biblicamente que devemos buscar ter a mente de Jesus, assim como é claro que já temos tal mente, pois já fomos feitos santos. Essa doutrina do "já e ainda não" nos impede de algumas desculpas traiçoeiras, como: "Ah, eu não consigo ser santo tendo a mente de Cristo. Isso é algo muito radical". Ora, você já tem essa mente. Você já é santo. E caminhar em direção a essa busca é a maior evidência de que você realmente recebeu a mente de Cristo. Ou, ainda, podem dizer: "Bem, se já tenho a mente de Cristo, então não preciso mais buscar tê-la." É exatamente contra isso que a doutrina diz que o cristão "ainda não" tem a mente de Cristo, e precisa lutar pela santificação. Essa doutrina está entrelaçada como causa e consequência, não podendo, de forma alguma, ser dissociada.
Portanto, caro Cristão, você já tem a mente de Cristo. Então, torno a indagar: tens pensado como Ele? Tem falado parecido com ele? Seu comportamento denuncia que és cristão? Meu objetivo aqui é te ajudar a perceber situações nas quais precisa mudar sua forma de pensar e agir, para que você esteja cada vez mais parecido com Jesus. Separe um momento para refletir sobre a base de sua existência até aqui. Cristo tem sido realmente seu norte? Tem sido tudo sobre ele? Ele é o seu respirar em todas as decisões? Reflita, caro irmão, e jamais se esqueça de que você já tem a mente de Cristo. Deus te abençoe.
Rodrigo Caeté
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