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Temos anjo da guarda?


Há, no imaginário popular, a crença de que cada cristão tem seu anjo particular da guarda. Um texto bíblico bastante usado para defender essa tese se encontra em Mateus 18.10, ocasião em que Jesus fala de seus "pequeninos" e "seus anjos". Ora, será que Jesus confirma a noção popular de "Anjo da Guarda"? Vejamos esse texto, bem como o seu contexto, a fim de concluirmos segundo a melhor interpretação. 

"Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus veem incessantemente a face de meu Pai celeste." (Mateus 18.10) 

No primeiro verso desse capítulo, encontramos alguns discipulos indagando a Cristo a respeito de quem seria o maior no reino dos céus. A fim de repreender essa arrogância, Jesus traz para o meio da conversa uma criança, indicando que o reino dos céus é para os humildes e despretensiosos como uma criança (versos 2-5). A partir do verso 6, Jesus passa a usar a expressão "pequeninos", não como uma referência às crianças mencionadas, mas com uma alusão aos frágeis e humildes de espírito, aqueles cristãos mais simples. Para combater a arrogância dos que se achavam, Jesus não apenas citou a humildade das crianças, como também fez um alerta em relação aos maus tratos com os mais simples. Segundo este verso 6, quem fizer um desses santos simples tropeçar, melhor seria que tivesse uma pedra amarrada ao pescoço e fosse afogado no fundo do mar. Deus não tolera tratamento soberbo diante desses "pequeninos". 

É essa expressão que Cristo usa ao dizer que esses pequeninos têm seus anjos no céu. Ele não está falando das crianças, mas dos cristãos. E não apenas de uma classe de cristão, como se outros santos não tivessem seus anjos, mas de todos, já que Jesus está descrevendo, em última análise, a natureza de todo eleito, que é alguém humilde e simples, uma vez que foi salvo pela graça. Um cristão soberbo não existe, pois ou se é cristão ou se é soberbo. Era exatamente isso que Jesus estava combatendo. 

Então temos anjos da guarda? Sim, mas não como no imaginário popular, como se cada santo tivesse um anjo particular. Jesus emprega o termo no plural, o que confere outra ideia mais geral, que coaduna com o restante da Escritura: 

"Ora, a qual dos anjos jamais disse: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés? Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?" (Hebreus 1.13-14) 

"Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra." (Salmo 91.11-12) 

No Antigo Testamento, por várias vezes Deus indicou que guiaria seu povo através de um anjo indo a frente (Gênesis 24:40; Êxodo 23:20; Êxodo 32:34). Seja um ou várias anjos, fato é que esses seres são servos do Senhor com a incumbência de nos guardar e guiar. Mas são servos do Senhor, e não nossos. Eles não são nossos guardas ou nossos protetores particulares. Portanto, não existem "anjos da guarda" individual, mas seres a serviço de Deus para cumprir o propósito de Deus. 

Por fim, onde estão esses seres? Veja como Jesus põe essa questão: 

"porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus veem incessantemente a face de meu Pai celeste." 

Ora, eles estão no céu ou na terra a nos guardar? Essa frase de Jesus não indica localidade, mas qualidade espiritual. Estar vendo incessantemente a face de Deus é ter alta dignidade espiritual. O ponto de Jesus é enfatizar que esses pequeninos não têm qualquer anjo, mas anjos altamente dignificados. Isso aumenta não apenas o poderio da proteção, mas a responsabilidade de quem tentar fazer tropeçar um desses santos. Então, esses anjos estão a serviço de Deus, seja na terra ou no céu, guardando o seu povo. Não de forma particular, embora individual, mas de forma protetiva e, certamente, amorosa. Sim, temos anjos a nos guardar. A Deus nossa gratidão.

Rodrigo Caeté 

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