Este verso que qualifica o título desse texto está inserido num dos salmos mais conhecidos do mundo, o salmo 23. Davi, o autor, se utiliza de algumas figuras de seu tempo para ilustrar o cuidado e a proteção divina diante de seus santos. Além da figura bastante conhecida do pastor de ovelhas (versos 1-3), temos também a imagem de um viajante protetor (verso 4) e de um grande banquete final que marca a festa da vitória após o grande vale da sombra da morte (versos 5-6). Podemos dizer que este salmo narra o período que passamos aqui na terra, com momentos de pastos verdejantes e vales sombrios, mas sempre com a proteção divina, que nos leva em segurança até o banquete final das bodas do Cordeiro.
Nos 3 primeiros versos, Davi descreve Deus como um pastor de ovelhas que supre todas as nossas necessidades, com repouso, água, refrigério, um guia seguro pelas veredas da justiça, além de toda segurança da caminhada. Em tudo, Deus não há de faltar, sendo ele mesmo nossa maior proteção.
Todavia, mesmo diante dessa segurança divina, essa caminhada reserva momentos tanto de "pastos verdejantes" como "vale da sombra da morte". Esse verso 4 marca a passagem da figura de um pastor para a figura de um viajante que caminha ao lado da ovelha em seus piores momentos. Em nossos mais terríveis dias, Deus está conosco. E ele não está de qualquer forma, mas armado com a vara e com o cajado, para nos proteger de todo perigo e derrotar todos os nossos inimigos. Mas quem são esses inimigos? Este é o ponto que desejo enfatizar neste salmo. Em um contexto no qual o revanchismo tem sido ensinado através de canções antibíblicas, provocando briga entre irmãos, este verso precisa ser bem entendido, para que o mesmo não seja usado como pretexto para o pecado.
Afinal, o que seria uma mesa preparada na presença dos inimigos? Seria uma forma de Deus honrar o cristão de uma tal forma e ainda pondo o ímpio para observar essa honra? Seria um engrandecimento público diante de todos aqueles ímpios que zombavam dos santos? A resposta é "sim". Isso mesmo. Mas espere até chegar ao fim desse texto para entender essa resposta de forma correta. A imagem que Davi usa neste verso 5 é a de um anfitrião que honra um hóspede com todas as cerimônias devidas a alguém que merece dignidade. Esse anfitrião seria Deus honrando o cristão publicamente. A pergunta é: quando será isso? Agora? Não. Aqui está a questão. Já vimos que o nosso Supremo Pastor irá sempre nos guiar e nos guardar de todo mal, estando conosco nos pastos verdejantes e nos vales da sombra da morte. Até quando? O verso 6 responde:
"Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre."
Para sempre. Essa Casa do Senhor é a nossa morada eterna, a Nova Jerusalém. Sua bondade e sua misericórdia nos levarão até lá. E lá seremos honrados. Lá Deus irá ungir nossa cabeça com óleo até transbordar, ou seja, será honra em abundância, por amor de seu próprio nome. Será lá que ele envergonhará todos os impenitentes e fará que vejam a nossa glorificação naquele grande banquete final:
"Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos." (Apocalipse 19.7-8)
Portanto, essa “mesa diante dos inimigos" nada tem a ver com o revanchismo que muitos exaltam. Deus ordenou que amássemos os nossos inimigos (Mateus 5.44). A honra é em glória. Aqui é a humildade e, muitas vezes, a humilhação e o amor. Não de forma tola ou insensata, mas pelas pegadas do Cristo Sofredor. Tal como ele foi honrado, assim será com todos que seguirem pelo seu caminho.
Rodrigo Caeté
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