Quem ainda se assusta com alguns excessos de algumas igrejas neopentecostais talvez não conheça bem a bagunça que era a igreja de Corinto. Além dos muitos pecados conhecidos que Paulo teve que tratar, como os guetos divisórios, a relação sexual entre madrasta e filho, etc, havia ainda os excessos em relação aos dons espirituais, já que não poucos estavam se vangloriando pelo fato de manifestarem certos dons que, aos olhos de leigos, podem conferir mais espiritualidade que outros dons. Até hoje existem aqueles que arrogam para si um ar de superioridade espiritual apenas porque "falam em línguas", rodopiam e dão piruetas na igreja como se estivessem possuídos pelo Espírito Santo. Foi exatamente para combater esses excessos alucinados que o apóstolo Paulo escreveu que "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas (1 Coríntios 14.32).
No contexto desse verso, Paulo está tratando da multiplicidade dos dons e da organização do exercício de cada um deles, devendo haver ordem e decência em cada culto. O ponto é que o culto a Deus deve ser feito com racionalidade, completamente diferente dos cultos pagãos que eram caracterizados pelo frenesi irracional e translouco. Quando Paulo fala do "espírito dos profetas", a referência não é ao Espírito Santo, mas ao espírito do homem. Em paráfrase, teríamos o seguinte: "o homem está sujeito a si mesmo, e não pode ser dominado por nada fora dele como se ficasse em transe. Ele sempre estará consciente de absolutamente tudo". Esse é o significado. Quando, portanto, alguém diz que, quando tomado pelo Espírito Santo, fica fora de si, sem domínio de suas próprias ações, agindo como um animal irracional, as únicas opções são essas: 1) está mentindo; 2) está realmente em transe emocional, mas que nada tem a ver com espiritualidade; 3) está possuído pelo espírito maligno. Não há a quarta opção, como se estivesse cheio do Espírito Santo. O enchimento do Espírito com os dons produz santidade, ordem e decência, através de um culto racional. É exatamente isso que o apóstolo diz no verso seguinte:
"porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos." (1 Coríntios 14.33)
Não há polêmica aqui. Não há outra forma de interpretação. Paulo é absolutamente claro ao corrigir os excessos espirituais daqueles irmãos. O mesmo vale para as nossas igrejas atuais. Deus não é Deus de confusão, e está longe de muita bagunça em nome de Cristo, mas que, no fim, visa apenas a glória humana. Deus deseja ser adorada com a piedade que caminha lado a lado com a racionalidade do culto. Qualquer delírio maluco deve ser rechaçado de nosso meio como fogo estranho.
Rodrigo Caeté
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