Não são poucos os que realmente têm dúvida quanto à própria salvação. Geralmente, o pano de fundo é algum pecado cometido ou mesmo uma sucessão de erros que vão desanimando o cristão na caminhada. Ora, e se eu não sou salvo? E se toda a minha caminhada cristã até aqui foi pura falsidade? Como saber se, de fato, Jesus me elegeu? Eu entendo a angústia que essas dúvidas geram e, por isso, pretendo escrever a fim de ajudar o leitor a chegar às respostas corretas que poderão conduzir o cristão ao descanso de espírito.
Em primeiro lugar, é bom que se saiba que esse tipo de dúvida faz parte da humanidade caída. Com isso, não quero justificá-la como algo normal e aceitável, mas apenas posicioná-la num lamentável cotidiano dos santos, pois somos atacados recorrente e violentamente por Satã e nossa própria carne para que duvidemos do amor do Pai. Estão lembrados da tentação de Jesus no deserto? Qual era o principal objetivo de Satã, senão fazer que Jesus duvide do cuidado paterno de Deus?
"Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães." (Mateus 4.3)
"Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra." (Mateus 4.6)
Note a ênfase na conjunção condicional "se" ("se és filho de Deus...”). Em outras palavras, Satã está tentando ludibriar a consciência de Jesus a partir de seu estado de sofrimento e suposto abandono: "Ora, que pai é esse que deixa o filho sofrer assim, passando fome no deserto e ainda o conduzindo à cruz? Ele realmente te ama?". Com isso, Satã busca plantar essa dúvida em Jesus em relação a sua filiação com Deus Pai e esse tal suposto amor. Felizmente, Cristo não cedeu à maldita dúvida e derrotou seu adversário com a certeza da Palavra.
Em nossas vidas, Satã segue o mesmo princípio de se aproveitar de alguma vulnerabilidade para sugestionar que não somos cristãos. Geralmente, ele vai direto na raiz de nossa principal fraqueza, não apenas nos tentando à queda, como também nos maltratando após, com dardos inflamados tenebrosos (Efésios 6.16), como acusações sem fim, a ponto de logo duvidarmos de nossa filiação. Não são poucos os que, infelizmente, caem nessa tentação do maligno. Se esse é o seu caso, permita-me tentar te ajudar.
Antes, precisamos nos certificar de que esse é realmente o seu caso. Estamos a falar de verdadeiros cristãos que estão apenas com crise de identidade por conta de pecados cometidos. Uma boa maneira de saber se esse é você é averiguando os seguintes pontos:
1) Você odeia o pecado. Sente grande repulsa e deseja demais ser mais santo;
2) Houve e sempre há genuíno arrependimento, que te faz querer lutar com cada vez mais vigor contra o pecado;
3) Você não teme o inferno mais do que teme entristecer seu Senhor. Ou seja, seu amor por Deus é infinitamente maior que seu medo da condenação;
4) Você ama os meios de graça que te ajudam na luta contra o pecado, como a leitura frequente da Bíblia, oração, comunhão dos santos, etc.
Se esses 4 pontos são uma realidade em sua vida, então muito provavelmente estou a falar com um cristão verdadeiro. Sendo assim, prossiga na leitura.
Caro Cristão, por si mesmo você não deseja pecar. Você não consegue se entregar totalmente à queda como quem desistiu de lutar. A primeira grande evidência é que você está aqui lendo este texto. Portanto, você odeia seu estado de fraqueza, e não ama o pecado. Essa é uma realidade bíblica de todos aqueles que foram feitos nova criatura (2 Coríntios 5.17), pois nossos desejos foram modificados e nosso prazer está em Deus e não mais no pecado. Além disso, embora tenha sofrido algumas quedas, você não é mais escravo desse pecado (Romanos 6). Ele não mais te domina e você precisa colocá-lo em seu devido lugar. Por fim, talvez algo que te falte (ao menos me auxilia demais) é uma firme prática de eternos recomeços. Isso é completamente diferente de errar por querer e sempre recomeçar. Não. Estou a falar de alguém que está correndo numa pista cheia de obstáculos e, vez por outra tropeça e cai, mas tropeça e cai porque está sempre tentando correr e ultrapassar os obstáculos. Para esse corredor, não há a opção de se prostrar e ficar lamentando. Satã não terá misericórdia de você. Ele é cruel e violento demais. Você não pode, definitivamente, ficar caído diante dele. Pode ser fatal. Por isso, você deve guardar na sua mente e pôr em prática essa orientação do apóstolo Paulo:
"uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." (Filipenses 3.13-14)
Paulo não se prostrava ou se permitia desanimar. Ele não entregava os pontos e nunca estava satisfeito já com sua caminhada cristã. O que ele sempre fazia? Se esquecia das coisas que ficavam para trás e olhava apenas para frente, para um fixo alvo chamado Jesus. Em aplicação, se esquecer das coisas que ficaram pode ser deixar de lado o pecado cometido e se levantar imediatamente olhando para Jesus. Lembre-se de que não há tempo para autocomiseração e lamento constante. Embora devamos lamentar nosso erro, devemos tomar cuidado, pois é tênue a linha entre o santo lamento que conduz ao arrependimento e o lamento que conduz à tristeza pecaminosa e de prostração. A melhor recomendação é seguir correndo em busca do prêmio da soberana vocação. Portanto, levante-se e corra. Você é um cristão e precisa correr em direção a Cristo. Vá!
Finalmente, cuidado com as artimanhas do inimigo. Você já sabe que ele é especialista em plantar dúvida. Ele fez isso ao longo de toda a história da humanidade. No deserto, tentou Jesus, mas no Éden já tinha usado a mesma estratégia, pois plantou dúvida no coração de Eva quanto ao que Deus havia dito: "Foi isso mesmo que Deus disse? Será?". Portanto, cuidado, pois ele sempre diz a todos os santos: "será mesmo que você é cristão? Olhe seus pecados..." Não caia mais nessa. Fique firme, ó Cristão!
Rodrigo Caeté
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