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Falsos deuses e a busca pelo refúgio


Deus é nosso refúgio, mas não poucas vezes nos refugiamos nos pequenos e falsos deuses desse mundo que imitam ao Senhor. Façamos o seguinte exercício pessoal: olhe para a sua vida e passe a meditar naqueles momentos que causam em ti um grande estresse, seja algo familiar ou profissional. Quando o estresse é expurgado após o fim de sua causa, não faltam deuses sedutores que ofertam uma redenção do prazer que temporariamente tinha sumido durante os momentos de grande tensão. O corpo está relaxado, a mente prega a si mesma que você precisa de um descaso e de um pouco de prazer. Os falsos deuses estão ao derredor borbulhando de sedução. Você está andando cansadamente e, agora, desleixadamente, à beira do precipício. Basta um canto da sereia para você cair. Ela ameaça cantar, mas antes de o som atraente sair de seus lábios, você já cai. Eis onde buscou seu refúgio. Em breve, dá o ar da desgraça a angústia. 

Pode ser um vício alcoólico, drogas, jogos de azar, pornografia - com suas várias formas de tentação à luxúria sexual, mentira, ganância, raiva, ira, ociosidade ou qualquer outro pecado que flui mais desenfreadamente após o estressado buscar um refúgio em lugares errados. Na verdade, sua queda não foi agora, pois antes da sedução do refúgio dos falsos deuses, você cedeu ao pecado da insatisfação. Eu sei que existem momentos que provocam grande estresse no trabalho. Eu sei que determinadas situações familiares parecem gatilhos para o excesso de ira e raiva. Mas eu também sei que Deus nos ofereceu conselhos e mandamentos importantes para lidarmos com situações difíceis e evitarmos que o estresse externo abra uma fenda em meu espírito e abale a nossa paz: 

"Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus." (1 Coríntios 10.31) 

Se toda a minha rotina tiver como objetivo final a glória de Deus, dificilmente serei abalado com alguma tensão externa. 

"Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens; se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens;" (Romanos 12.17-18) 

Se revidarmos o mal com o bem, com um espírito manso que procura sempre a paz com todos, dificilmente seremos afetados pelo estresse externo. 

"Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma." (Eclesiastes 9.10) 

Se pusermos o devido vigor, nem mais nem menos, nos afazeres comuns do dia a dia, zelando pelo cuidado do que tem sido posto em nossas mãos, com paciência e sabedoria, sempre buscando a honra de Deus, dificilmente o que tem estado em nossas mãos nos causará demasiado enfado. 

"Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo." (Colossenses 3.23-24) 

Se nos certificarmos que nosso verdadeiro patrão é Deus, nos alegraremos com nosso serviço e serviremos com ainda mais reverência, e dificilmente nos sentiremos extenuados demasiadamente. 

"Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos." (Filipenses 4.4) 

Se entendermos que a alegria é um mandamento, que deve ser sempre, independente das circunstâncias, e que deve ser no Senhor, e em nada a nossa volta, nossa reação diante desse mundo dificilmente será de revolta ou estresse. Isso porque o Deus inabalável não fará nada que tire a nossa alegria. Se nossa alegria de esvai temporariamente e, assim, temos que buscar nos falsos deuses desse mundo, sinal é de que ela não estava no verdadeiro Deus, mas nesses mesmos falsos deuses. 

Quando não seguimos esses princípios bíblicos, somos facilmente afetados pelo humor oscilante desse mundo, que está sempre a nos provocar à murmuração, ao lamento, à tristeza e ao estresse. Nessa esteira, quando somos afetados dessa forma, quem rapidamente aparece oferecendo refúgio? Nosso deus de estimação que sabe qual o nosso prazer neste mundo. Ele aparece como rápido refúgio, pronto para satisfazer nosso descanso, aplacar a nossa ira, amansar o nosso estresse e reanimar o nosso vigor. Juntamente com ele, nosso coração enganoso sussurra: "voce merece relaxar. Veja como está cansado. Relaxa um pouquinho. Você precisa de um pouco de alegria... só essa vez..." 

Logo após o falso refúgio, já que todo deus falso busca imitar o Deus verdadeiro, não seria diferente em relação ao sacrifício. Sim, ele também exige, e, não poucas vezes, de modo muito cruel e implacável. Um homem casado, por exemplo, que se refugia na pornografia, está sacrificando no altar da luxúria a sua família. Mais cedo ou mais tarde, o falso deus pedirá que o cutelo seja lançado sobre o pescoço de seu lar. Ou seja, o falso deus promete refúgio, mas entrega amargura e lamento; exige um sacrifício, mas não para a salvação, mas para a perdição total. Não apenas isso. Ele ainda insensibiliza, se possível até a morte, a espiritualidade de seu servo, tornando-o frio e letárgico espiritualmente. É exatamente isso que o salmista indica abaixo: 

"Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. Têm boca e não falam; têm olhos e não veem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam." (Salmo 115.4-8) 

Há uma promessa de imitação entre ídolo e idólatra. Deus declarou que todo aquele que buscar satisfação em qualquer outra coisa ou fora dEle mesmo irá adquirir características de seu ídolo. Sabe o que isso significa? Tomemos o exemplo dos ídolos de barro. Eles têm boca e não falam, tem nariz e não cheiram, etc. No fim do texto, Deus ordena: "Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam." O idólatra passaria a ter boca e não falar, ter nariz e não cheirar, ter olhos e não ver; ele passaria a ser insensível como os ídolos de barro; passaria a ser morto como ele. Em aplicação espiritual, ele passaria a não mais tatear como antes a graça divina; ele passaria a ser frio, insensível, letárgico, mais próximo do pecado, sem desejo pelo Senhor e extremamente desanimado quanto a uma restauração. Ele estaria como um morto. Esse é o terrível trabalho dos falsos deuses que prometem consolo. 

Antes de caminharmos para o fim, não posso deixar de explicitar essa conclusão desse ponto anterior: talvez aqui esteja a resposta para a sua frieza espiritual: idolatria! Quem sabe seu desânimo não seja uma evidência de que seu ídolo tem sugado suas forças? Talvez seu abatimento esteja revelando que há coisas ou pessoas na sua vida tomando o lugar que deveria ser apenas de Deus. Cuidado. Cuidado, pois os deuses falsos são implacáveis e insaciáveis. Eles amam o cheiro da morte e o sangue derramado na vala da condenação. Cuidado. 

Enquanto o falso refúgio dos falsos deuses entregam apenas amargura, o Senhor dos senhores é o único que cumpre o que promete: 

"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem-presente nas tribulações." (Salmo 46.1) 

Portanto, não temeremos ainda que tudo a nossa volta pareça ruir, ainda que o estresse venha como uma avalanche. Há um Deus que se põe diante de Deus como uma Rocha segura e um refúgio aconchegante. Certamente, ele não está alheio aos nossos muitos problemas do dia a dia. Jamais é demais lembrar que ele realmente nos ama. Ele nos ama, e nunca virará as costas para um filho seu. Se você tem precisado de refúgio, corra para ele. Descanse nele. Qualquer outro refúgio nesse mundo não nos levará ao arrependimento, pois apenas Deus pode satisfazer uma alma cansada.

Rodrigo Caeté

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