Essa banalização do culto a Deus, no entanto, é apenas mais um efeito do desastre que foi a administração feita por muitas igrejas, durante o tempo de pandemia, no que tange ao "cultos onlines" com a administração dos sacramentos também de forma online, como "ceia online" e "batismo online". Mas, se formos aprofundar ainda mais as causas, veremos que há uma falha ainda mais grave em relação ao entendimento de comunhão dos santos e culto público. A fim, portanto, de desenvolver essas causas até chegarmos aos tais cultos metaversos, pontuarei abaixo, de forma progressiva, algumas questões essenciais que evitariam inovações heréticas como essas.
1) Salomão disse, em Eclesiastes 3, que há um tempo para todo propósito determinado por Deus na terra, e um desses propósitos está no fim do verso 5: "tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar". Durante muito tempo, Deus nos permitiu os abraços públicos e a reunião solene através da comunhão dos santos. Porém, nesses últimos 2 anos de pandemia, Deus determinou que os abraços fossem afastados, e o culto público fosse suspenso.
2) Por quê? Não sabemos com exatidão, pois Deus não nos revelou a causa espiritual do Coronavírus. Todavia, podemos dizer que seu amor por seus filhos permaneceu o mesmo, e sua ira sobre os impenitentes também se manteve firme. Com isso, podemos afirmar que o Coronavírus foi mais uma prova de amor pelos santos, por meio dessa temporária disciplina corretiva (Hebreus 12.6), e mais uma manifestação universal de seu descontentamento diante das maldades dos ímpios (Provérbio 11.31).
3) Sendo isso verdade, sabendo que Deus determinou um tempo de lamento, reflexão e arrependimento, através desse afastamento disciplinar, toda histeria por manter o culto de forma virtual, com seus consequentes sacramentos, deve ser classificado como desobediência. Entenda bem, pois há de se delimitar bem os pontos para que eu não seja mal interpretado. Deus criou a internet, e esses meios virtuais têm sido também usados para a propagação do reino de Deus. Isso é um fato que não se contesta. Entretanto, devemos diferenciar pregação online, através da qual se espalha as boas novas, de culto público online. Uma coisa é o cumprimento da divulgação das boas novas, que devemos fazer de todos os meios possíveis, mas outra é a adoração pública ao Senhor, através da reunião de todos os salvos. Quanto a esta comunhão dos santos para adorar ao Senhor, é biblicamente impossível que seja feita de modo virtual. Com relação aos sacramentos, mais impossível ainda.
4) O ambiente virtual tem características que simulam a vida real corpórea, mas jamais tem elementos substitutivos quando o assunto é o culto da igreja reunida. Aquela adoração em espírito e em verdade anunciada em João 4 é ratificada através do corpo, em locais físicos. O que Jesus estava condenando era a exaltação de um local específico como mais ungido que outro. Todavia, o culto verdadeiro independente do lugar, quando feito de modo individual, mas carece de algum ambiente físico e real, quando feito de forma mística e com a igreja reunida.
5) Desde que Deus nos fez social e espiritualmente um só povo (Efésios 2.14-16), passamos a fazer parte de um mesmo corpo, cujo cabeça é Cristo. Corporalmente, Jesus já esteve entre nós, e não foi de forma online ou com apenas uma aparência de realidade, como pregavam os gnósticos. Atualmente, embora fisicamente ele não se encontre entre nós, o seu Espírito Santo nos assegura a união com Jesus, até que, em breve, ele fisicamente volte. Portanto, do início ao fim, toda a obra de redenção se deu no plano físico e real. Não existe pecado metaverso, ou condenação online, ou mesmo céu no mundo virtual. O Evangelho é algo sério e tangível, e o Lago de Fogo será algo físico e nada virtual.
6) A Confissão de Fé de Westminster nos deixou um ensino importante acerca da edificação pública através da comunhão dos santos: "I - Todos os santos que pelo seu Espírito e pela fé estão unidos a Jesus Cristo, seu Cabeça, têm com Ele comunhão nas suas graças, nos seus sofrimentos, na sua morte, na sua ressurreição e na sua glória, e, estando unidos uns aos outros no amor, participam dos mesmos dons e graças e estão obrigados ao cumprimento dos deveres públicos e particulares que contribuem para o seu mútuo proveito, tanto no homem interior como no exterior. (I João 1:3; Ef. 3:16-17; João 1:16; Fil. 3:10; Rom. 6:56, e8:17; Ef. 4:15-16; I Tess.5:11, 14; Gal. 6:10.) II. Os santos são, pela sua profissão, obrigados a manter uma santa sociedade e comunhão no culto de Deus e na observância de outros serviços espirituais que tendam à sua mútua edificação, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas respectivas necessidades e meios; esta comunhão, conforme Deus oferecer ocasião, deve estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar, invocam o nome do Senhor Jesus. Heb.10:24-25; At.2:42,46; I João3:17; At. 11:29-30." (CFW 26.1-2). Faz parte da nossa fé, portanto, a reunião pública e corpórea. Isso significa que abominamos o desigrejamento irresponsável.
7) Quanto a essa necessidade de ajuntamento solene, o pastor Heber Carlos de Campos Júnior escreveu um excelente artigo intitulado "Em tempos de pandemia, como fica a comunhão?". Neste artigo, ele diz o seguinte: "É aqui que podemos aprender com o início da Primeira Epístola de João. O apóstolo João tivera um contato físico com Jesus e estava testificando da realidade de seu ministério àqueles que não haviam visto ou apalpado a Jesus (cf. Jo 20.30-31). Na sua primeira epístola João queria ensiná-los que, mesmo sem o contato físico com Jesus, os leitores também tinham comunhão com o Pai e com o Filho (1 Jo 1.1-3), além de comunhão com os irmãos (1 Jo 1.7). João está preocupado em certificar crentes de sua fé (1 Jo 5.13); ele quer mostrar aos seus leitores como podemos saber que temos comunhão com Deus e com os santos. Já que o contexto de falso ensino estava assolando a fé cristã, João promove os chamados “testes” para que os fiéis fossem confirmados na fé: o teste doutrinário (1 Jo 2.22-23; 4.2-3), o teste social (1 Jo 2.7-11; 3.11-18) e o teste moral (1.5-10; 2.3-6). É significativo que esses testes expressem que nossa comunhão com Deus está calcada na verdade (aspecto doutrinário), no usufruto de atributos divinos (aspecto moral) e na realidade de estarmos unidos a Cristo (aspecto social). Sendo assim, 1 João é uma carta para nos ajudar a compreender a riqueza da nossa comunhão com Deus e com os santos." (Disponível em <https://cpaj.mackenzie.br/em-tempos-de-pandemia-como-fica-a-comunhao/>)
8) Diante desses pontos, concluímos que cultos onlines ou metaversos ou mesmo qualquer outra invenção virtual de adoração comunitária podem no máximo representar uma adoração individual, mas jamais uma reunião dos santos, conforme estabelecido por Deus.
Quando analisamos o ajuntamento solene através das lentes da maravilha que é a união mística de todos os salvos, constatamos que impressiona o poder espiritual que há na comunhão dos santos. A união mística do corpo da igreja com Cristo é algo sensível, indissolúvel, espetacular! E como temos lidado com isso? Será que sentimos falta, da mema forma como o salmista sentia saudades do templo?
"Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo!" (Salmo 84.1-2).
O início do salmo indica que o autor estava distante do templo e, por isso, com o coração apertado de saudade pela presença de Deus naquele lugar. Evidentemente, conforme já vimos, não precisamos nos deslocar até um local específico para desfrutar da presença do Senhor (João 4.21-24). Não obstante, o salmista expressa o anseio que todo cristão deve ter de adorar a Deus na forma mais sublime: a comunhão dos santos no culto que aponta para a reunião de toda tribo, língua, povo e nação (Apocalipse 5.9). No fim, seremos todos fisicamente reunidos, e quão estrondosamente maravilhoso será, algo que o mundo virtual nunca conseguirá tatear.
Rodrigo Caeté
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