Pense em alguém enlutado, em seu período de grande dor e sofrimento, até que chega alguém e diz:
"Ei, se alegre. Confie em Deus e mude esse semblante. Tu não és cristão?"
À primeira vista pode parecer insensibilidade, como se não pudesse haver na vida cristã espaço para o lamento. Entretanto o apóstolo Paulo põe o seguinte mandamento em Filipenses 4.4:
"Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos."
Seria, então, insensibilidade dizer para um enlutado se alegrar? Antes da resposta, vejamos esse outro verso bíblico:
"Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram." (Romanos 12.15)
Como é possível se alegrar o tempo todo e ainda chorar com os que choram? Parece que o verso que unifica essa tese aparentemente contraditória é esse abaixo:
"entristecidos, mas sempre alegres." (2 Coríntios 6.10a)
E aqui parece que achamos um equilíbrio sadio em relação às dores cristãs: é possível ser alegre quando o termômetro de nossa alegria não é o calor das circunstâncias terríveis da terra, mas o grande amor do Senhor que guia essas circunstâncias. É por isso que Paulo direciona que nossa alegria seja no Senhor e não no que nossos olhos veem. Estando no Senhor, conseguimos o consolo espiritual diante do lamento; conseguimos chorar enquanto nos alegramos. Talvez a confusão quanto a essa compreensão esteja no que seria essa tal alegria. Eu a defini da seguinte forma: alma tranquila na soberania divina. Alma em paz em meio a guerra porque o Senhor da guerra não perde o comando. Ser alegre em Deus não é abrir o sorriso o tempo todo. Antes, é mesmo chorando expressar confiança no Deus que decretou todas as circunstâncias. É confiar plenamente no que é dito em Romanos 8.28:
"Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito."
Esse Deus estava agindo quando o seu povo esteve durante muito tempo no cativeiro babilônico. Esse Deus agiu quando libertou alguns dos seus, mas deixou outros ainda presos lá. É nesse contexto de libertação que alguns cantaram:
"Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe. Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes." (Salmo 126.4-6)
Os que foram restaurados e ficaram deslumbrados com tamanha libertação (Salmo 126.1.3) não se esqueceram de seus irmãos ainda presos, e estavam rogando a Deus pela mesma sorte a eles. Algo precioso dito por eles é a importância da esperança ao semear durante o processo de dor. Normalmente, na hora da dor muitos entregam os pontos e se entregam à lamúria e autocomiseração. Mas o cristão entende que a dor é a semente. O cativeiro é a semeadura que faz brotar os frutos da paciência e perseverança. Quem sai andando sentindo dor, mas semeando, voltará trazendo os frutos de santidade, mesmo que a dor volte junto. Não é sobre o que sentimos, afinal, mas sobre quem adoramos e o quanto ele nos ama ao nos santificar pelo fogo.
Esse texto é um convite a que se santifique em meio ao progresso de luto e lamento. Faça a semeadura, caro cristão. Chore sim, mas se alegre em Deus. Não desista porque seus olhos estão mostrando circunstâncias difíceis. Mas use suas mãos e sua fé em Deus para semear, ainda que com muita dor. Deus jamais abandona quem confia totalmente nele na hora do vale da sombra da morte:
"Entrega o teu caminho ao Senhor , confia nele, e o mais ele fará... Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado." (Salmo 37.5,25)
Eis a hora de semear!
Rodrigo Caeté
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