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Animais vão para o céu? A extensão do sacrifício de Cristo


Talvez possa causar espanto eu iniciar esse texto dizendo que a morte de Cristo alcançou redentivamente os animais. Antes de esclarecer esse ponto, preciso dizer o que os animais não são. Isso é um ponto importante diante de uma cultura cada vez mais tendenciosa a idolatrar animais. 

1) Animais não foram criados à imagem e semelhança de Deus. O homem, sim: 

"Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra." (Gênesis 1.26-28) 

Não há qualquer relato em toda Escritura que diga que os animais foram feitos à imagem e semelhança de Deus. Ademais, Jesus assumiu a forma de homem e não de animal. A relação direta que Deus tem com os seres vivos é com os humanos. 

2) Animais não têm entendimento como o homem: 

"Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem." (Salmos 32.9) 

No hebraico, a palavra traduzida como ser vivente (alma) é "Nephesh". Isso significa que podemos dizer que todos os animais possuem alma, mas diferente da alma do homem, que que é feito à imagem e semelhança do Criador. Assim sendo, eles não carregam a noção de moralidade, nem consciência. Eles não raciocinam. "Ah, mas meu cachorro faz isso e aquilo. Ele pensa sim"; "Ué, então me explica o vídeo daquele animal tal que é mais inteligente que muito ser humano porque faz isso e aquilo"; etc, etc e etc. As contrariedades são muitas, mas todas baseadas em nossas experiências, que jamais podem se sobrepor ao que diz a Bíblia. Fato é que animais podem ser adestrados de uma forma muito eficiente. Aliais, alguns são de uma tal forma que sofrem maus tratos apenas para terem um número de exibição exuberante. Isso não é bom. O ponto aqui é dizer que animais são inferiores quanto ao raciocínio em relação aos homens. 

3) Animais não são filhos. São alimentos para o homem: 

"Pavor e medo de vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as aves dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues. Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora." (Gênesis 9.2-3) 

Esse ponto deve causar calafrios na ala esquerdisticamente correta super protetora dos animais. A turma vegana deve ranger os dentes ao ouvir que Deus nos deu os animais para o nosso sustento também. Pais de Pet devem rosnar ante essa declaração bíblica de que tais animais não são filhos e jamais receberão a alcunha de serem chamados de "herança do Senhor" (Salmo 127.3-5). Os animais estão sob nossa administração e nos foram dados como parte de nosso sustento também. 

Esses 3 pontos iniciais servem como contrapontos diante daqueles que tratam os animais como seres iguais ou superiores aos homens. Todavia, por outro lado, há também aqueles que traram essas criaturinhas de forma tão abjeta e hostil que desonram ao seu Criador. 

"O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel." (Provérbios 12.10) 

Tratar mal nossos bichinhos é atitude cruel. É evidência de impiedade. O cristão, por outro lado, busca zelar pela criação de Deus porque sabe que tudo é para o louvor da glória do Senhor. É honroso cuidar dos animais com a devida dedicação. 

Feitas essas considerações iniciais, vejamos o ponto central desse texto. A fim de ser o mais claro possível, usarei o mesmo método de pontuação numérica até chegarmos à conclusão. 

1) O homem caiu e, com ele, toda a criação sofreu as consequências: 

"E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás." (Gênesis 3.17-19) 

Como Adão era o representante federal da raça humana, a sua queda significou a queda de tudo que estava sob sua gerência e representatividade. Até a criação divina em sua totalidade recebeu punição. Se antes era mais fácil obter sustento da criação, seja do plantio ou da caça, após a queda a manutenção da vida passou a ser com muito suor. 

2) A criação geme aguardando a redenção final: 

"A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora." (Romanos 8.19-22) 

Particularmente, vejo tanta beleza nesse texto. Paulo mostra a extensão do amor divino por toda criação. A morte de Cristo expiou os pecados dos eleitos e ainda redimiu a casa para sua habitação por toda eternidade. Se a criação caiu por causa do homem, a mesma foi resgatada por um homem - Jesus Cristo - e para a habitação do homem. É nesse contexto que entendo que haverá animais no céu. Assim como antes do pecado, no Paraíso, havia animal, da mesma forma haverá no Paraíso Restaurado. 

3) A Escritura atesta a presença deles: 

"O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor , como as águas cobrem o mar." (Isaías 11.6-9) 

"O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor." (Isaías 65.25) 

Sim, Deus está falando da paz futura na Nova Terra, e usar todos esses animais em harmonia com o homem é um belo símbolo dessa paz. Não parece sensato dizer que Deus usou a fugura dos animais para ilustrar essa paz, mas que eles não estarão lá. Creio que há essa figura de paz, mas a partir da literalidade quanto à presença dos animais. 

Mas quais animais? Novos ou os nossos de estimação que perdemos ainda aqui? 

Já vimos que haverá animais no Novo Céu. A indagação final é se será o nosso bichinho que morreu de velhice ou doença e nos causou muita dor, ou se serão outros novos. Se a minha interpretação de Romanos 8 está correta, a de que essa terra será renovada para a habilitação dos eleitos, pode ser que haja animal de estimação por lá. Todos? Não sei. Só sei que Deus selecionou alguns para a Arca. Mas não quero me percorrer por esse caminho por muitos tempo, pois estaríamos no campo da especulação, e não é saudável o aprofundamento em especulação. Então, pode ser que haja animal de estimação. 

Por outro lado, há outro texto bíblico que, dependendo da interpretação, pode inclinar nossa conclusão para outro ponto: 

"Todavia, o homem não permanece em sua ostentação; é, antes, como os animais, que perecem." (Salmo 49.12) 

É evidente que o salmista não está dizendo que os animais perecem espiritualmente como os ímpios, no inferno, por exemplo. Ele usou o perecimento dos animais, isto é, a morte por aniquilação, para dizer que os ímpios perecerão em alma. Não há qualquer evidência de lugar intermediário para os animais. Eles não têm a alma aguardando a ressurreição dos mortos. Certamente, Deus tem poder para recriar os mesmos a partir do nada, mas não será a partir da alma deles aguardando em algum lugar intermediário. 

Finalmente, encerro esse texto com a fé de que haverá paz no Novo Céu, não apenas paz com Deus e com os homens, mas também com os animais. Não sei se serão os mesmos daqui. Pode ser. Mas isso não será importante depois. Pode ser importante hoje porque amamos nossos animais de estimação, mas não será depois pois todo nosso amor será do Senhor. Por hora, basta que amemos na medida certa, nem a mais e nem a menos, essas belas criaturinhas que Deus nos deu.

Rodrigo Caeté 

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