Não há, certamente, nenhum mandamento bíblico indicando a doação de sangue, assim como não há a proibição. Curiosamente, a seita das Testemunhas de Jeová proíbe qualquer transfusão de sangue por razões religiosas. Usam alguns versos, sem o devido contexto, para provar que Deus impede a transfusão de sangue. Veja alguns versos usados:
"Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora. Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis." (Gênesis 9.3-4)
"Portanto, a vida de toda carne é o seu sangue; por isso, tenho dito aos filhos de Israel: não comereis o sangue de nenhuma carne, porque a vida de toda carne é o seu sangue; qualquer que o comer será eliminado." (Levítico 17.14)
"mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue." (Atos 15.20)
Existia, sim, uma proibição quanto à relação com o sangue, sobretudo de animais. E isso tinha razões muito claras e definidas, pois, além das questões sanitárias, Deus estabeleu o sangue como o símbolo máximo de seu sacrifício na cruz. Olhemos, por exemplo, o contexto de Levítico 17, onde Moisés diz que a vida está no sangue:
1) Os versos iniciais (Levítico 17.1-6) mostram Moisés proibindo sacrifícios aleatórios fora da tenda da congregação. Para derramar sangue de animal de forma legítima diante do Senhor, deveriam seguir a ordem expressa de quando, onde e como deveria ser (verso 6). Era proibido derramar qualquer sangue de animal fora desse costume.
2) A punição para quem descumprisse essa ordem era a pena capital (Levítico 17.8-10). Até hoje não vi nenhum membro da Testemunha de Jeová matando algum desobediente que faz transfusão ou doação de sangue.
3) o verso 11 aponta para a espiritualdade desse ritual:
"Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida."
Deus usava esse tipo de ritual de sacrifício como uma parábola de seu próprio sacrifício na cruz, que seria através do derramamento de sangue do puro Cordeiro Jesus Cristo. O autor aos hebreus põe isso de forma muito viva:
"Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!" (Hebreus 9.11-14)
O apóstolo Paulo também põe isso de forma muito clara:
"no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça." (Efésios 1.7)
A vida, portanto, não está no sangue de forma literal. É fato que o sangue constitui vitalidade ao nosso corpo, mas a Bíblia se apropria dessa literalidade para apontar para a vida eterna. De fato, a vida eterna é uma realidade a partir do sangue de Cristo sendo derramado na cruz. A Escritura, então, não proíbe a doação ou transfusão de sangue. Na verdade, ela nada fala especificamente sobre isso. O que temos são versos de auxílio ao próximo dos quais podemos ajudar de aplicação para a doação de quem desejar. (Gálatas 6.9; Mateus 5.16; Efésios 2.10).
Este não é um texto expresso de incentivo à doação ou coisa parecida, mas um incentivo à adoração a Deus pela maior doação de sangue do mundo. Se esse precioso Evangelho te incentivar a doar, glória a Deus, mas, acima de tudo, que a sua vida seja uma doação a Deus em santidade (Romanos 12.1-2).
Rodrigo Caeté
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