O Belo e o culto à Feiura: pinceladas de modéstia
Há muitos que fazem viagens aos lugares mais belos do mundo como um estilo de vida. São os apaixonados pela beleza da criação. Pouquíssimos, contudo, são os que veem na bela paisagem um pequeno aperitivo na Beleza Suprema. Se Ele fez isso, imagina quem e como Ele é!
Bem, creio que preciso acertar os fundamentos dessa minha pontuação inicial. Tenho que deixar essa base bem sólida para que a noção de Beleza seja bíblica, firme, singela e nada modesta. Ela precisa ser radiante, e não pouca provocadora de adoração ao Senhor.
Eis o fundamento de meu texto: tudo o que vemos a nossa volta, conquanto vejamos beleza, é o resultado da ira de Deus. Quando Adão pecou, como representante federal de toda raça humana e líder da criação, trouxe como consequência à terra a maldição pronunciada pelo Senhor: "maldita é a terra por tua causa." (Gênesis 3.17) O apóstolo Paulo descreve um pouco do estado da criação: "A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora." (Romamos 8.19-22)
Paulo personifica a criação ao dizer que, sendo também alvo da redenção divina (isso, Jesus não morreu apenas por você, mas também para redimir todo o cosmo, e preparar o Novo Céu e Nova Terra aqui), ela está ansiosamente aguardando o dia final, quando os eleitos forem finalmente revelados, pois este será o dia de sua própria consumação, quando será totalmente renovada, retirada a maldição, e restaurada em plenitude suprema, a sua beleza.
Portanto, preciso dizer que tudo ainda é muito feio; tudo ainda é manchado pelo pecado; tudo ainda carrega a maldição da queda. Todavia, há tanta beleza nesse mundo. Há tanta paisagem que tira o nosso fôlego, não é verdade?! Certamente, da mesma forma como a imagem de Deus é preservada em todo homem, assim também é com a criação, que recebe ainda cuidados misericordiosos do Senhor.
Onde deve estar nossa reflexão a partir desse fundamento? Veja: se, nessa ruina maravilhosa, ainda enxergamos tanta beleza, imagine como era antes da queda. Nossa, você consegue tatear com sua mente a sufocante beleza do mundo sem o pecado? Tudo foi feito muito bom pelo Senhor. Quero dizer que Ele ama a beleza, se maravilha com as artes superiores, e com tudo aquilo que é belo, pois tudo isso aponta para Ele mesmo, a Suprema Beleza.
Infelizmente, há uma vertente da cristandade que ainda separa o mundo em sagrado e profano, considerando toda manifestação musical e artística, por exemplo, como expressões mundanas ou carnais. No mínimo, estão a dizer que aquilo que se encontra como belo neles assim o é por beleza intrínseca. Você consegue dizer que aquilo que é belo no mundo, ou aquela canção maravilhosa produzida por um ímpio, provém dele mesmo? Eu não consigo. Tudo aquilo que o ímpio faz que se conecta com a beleza tem Deus como o autor último. Eu mesmo, em minha adoração particular, glorifico mais a Deus através das músicas ditas "seculares" que por meio das modernas músicas evangélicas.
Permita-me voltar a afirmação inicial de que Deus ama o belo. É necessário firmar isso na mente antes de passarmos para o próximo ponto. Sim, Deus se maravilha com o belo, mas essa beleza, diferente do que muitos pensam, não é subjetiva; não depende dos olhos de cada um; não é ditada por padrões ideológicos marxistas, que tentam atacar a Deus manchando tudo aquilo que é belo. Essa beleza é objetiva, e Deus mesmo plantou em todo ser o senso do divino e, logicamente, a sensibilidade para a beleza que aponte para a Suprema Beleza. Nós sabemos olhar para o mundo e identificar o que é bonito sem que nos ensine que aquilo é bonito. Nosso interior se estremece quando sentimos Deus um pouco mais próximo através das beleza desse mundo.
Ora, o que tudo isso tem a ver com modéstia e culto à feiura? Com esse fundamento em mente, eis alguns pequenos pontos:
1) Há, certamente, na atualidade, um culto ao corpo, onde se busca a adoração pessoal com o mostrar-se sensualmente ao público. Quando, por exemplo, uma mulher se veste sensualmente, ela deseja mais do que ser admirada; mais do que apenas atrair atenções; mais do que provocar um flerte muitas vezes; ela quer ser adorada. Um homem que cede a esse tipo de luxúria, está compactuando com o culto a ela. Essa forma sensual de se vestir, cultuando a si mesmo e buscando muitos fiéis, é uma deturpação radical do que é belo. Estamos diante do grotesco que se veste de beleza, mas uma beleza baixa, carnal e demoníaca.
2) Em reação a isso, temos o culto à feiura. São cristãos que, muitas vezes, movidos pelo santo desejo pela modéstia, se aproximam de um perigoso extremo. Geralmente, vemos isso mais claramente nos muitos "Não pode": não pode usar isso, não pode usar aquilo, não pode se vestir dessa forma, não pode mudar o cabelo, não pode, não pode... deve ser natural, pois assim Deus criou. E assim segue o argumento. Ora, há beleza natural? É claro que há. Na verdade, aqui está uma beleza ímpar. Todavia, tal como a terra, que vai se deteriorando, se tornando feia porque está debaixo da ira de Deus, da mesma forma o homem vai sendo enfeiado pelo pecado. Tal como toda a beleza da terra ainda está longe de ser o belo inicial, da mesma forma toda beleza natural está muito longe de apontar para a Beleza Suprema. O que fazer, então? O culto ao corpo ou à feiura? Esse é o momento clichê do texto, não é? Você certamente já sabe a resposta e está apenas esperando eu dizer que nem um nem outro.
Creio que ambos os cultos carregam influências feministas, ou seja, terrenas e diabólicas. Há uma vertente dita empoderada, que quer se destacar de qualquer forma, nem que seja apenas por meio do corpo escultural. E há a vertente mais radical do feminismo, que anda mostrando os seios, não se depilam, não cuidam da higiene, e dizem não querer seguir certos padrões patriarcais. Consegue ver a influência dos dois pensamentos?
O que eu penso, afinal?
Quero encerrar repetindo que Deus se maravilha com o belo, e Ele mesmo criou a beleza. Ele fez o mundo e depois foi remodelando, com o Espírito pairando sobre a face da terra. Ele maquiou a borboleta com cores belas; Ele vestiu as aves da floresta com penas atraentes; Ele tornou os lírios do campo uma atração estrondosa aos nossos olhos. Todavia, nada disso nos causou espanto, tentação sexual ou escândalo. Olhamos para tudo isso e nos lembramos do Criador, e imaginamos como Ele deve ser maravilhosamente Belo.
Agora, se me perguntarem se sou contra ou a favor de a mulher usar isso ou aquilo, peço que releia meu texto. Não dito regras, nem vou dizer o que pode ou não pode. Eu quis apenas apontar alguns fundamentos. Creio que indiquei até demais do que gostaria (kkkk). Peço apenas que amem a beleza e façam de tudo para não apenas verem o Criador em toda beleza a nossa volta, como também, com a vida e o corpo, apontar para a Suprema Beleza. O gosto de Deus pela beleza contagia os que são íntimos dEle.
Deus te abençoe.
Rodrigo Caeté
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